Por Larissa Reis
Ainda Temos o Amanhã é ambientado em um bairro pobre de uma Roma pós-Segunda Guerra Mundial, e gira em torno de Delia, uma mulher dedicada, com diversos empregos, tarefas domésticas e responsabilidades familiares. Sua família é composta por dois filhos pequenos e encrenqueiros; a filha mais velha, prestes a se casar; e o marido Ivano, um ex-combatente de guerra violento e agressivo, o chefe autoritário desse núcleo conturbado.
Pelo andar da carruagem, você deve estar pensando que este é mais um filme comum, cheio de discursos genéricos sobre a igualdade entre os sexos. Mas, é aí que você se engana! O longa-metragem de maior bilheteria na Itália em 2023, superando até Barbie e Oppenheimer, com mais de cinco milhões de espectadores, trata com muito humor e delicadeza um tema sério e importante que as mulheres dos anos 40 e 50 enfrentaram, de acordo com os costumes daquela época. Pode parecer uma história antiga, mas, infelizmente, ela ainda é muito atual.
Delia, vivida pela própria diretora Paola Cortellesi, tem vários empregos ao longo de um único dia. Ela é dona de casa pela manhã, à tarde aplica injeções em idosos, costura para uma loja de meias e sutiãs, conserta guarda-chuvas, e ainda lava as roupas de cama de um hotel. Para fechar o dia, ela apanha do marido quando chega em casa, às vezes por algum simples acidente doméstico, como, por exemplo, queimar as batatas, ou até mesmo sem ter feito absolutamente nada. Isso gera um conflito entre os filhos e até mesmo entre as vizinhas, que param o que estão fazendo só para ouvir as brigas. Logo no início, Delia recebe uma carta misteriosa entregue pela síndica fofoqueira da vila em que mora. A curiosidade de saber o que está escrito nela é inquietante, já que durante a história você passa a imaginar diversas possibilidades.
Saber que este é o primeiro trabalho da multitalentosa Paola Cortellesi como cineasta o torna ainda mais especial. Corajoso, poderoso e original, esse é o tipo de filme que faz você querer assistir mais de uma vez, e que, com certeza, vai indicar para todos os seus amigos. O longa consegue criar uma sensação de intimidade com a protagonista, que transita pelos mesmos lugares todos os dias, dando a impressão de um mundo pequeno e, ao mesmo tempo, claustrofóbico, refletindo como Delia se sente presa dentro dele. O estilo lúdico faz com que certas ações se tornem surreais e parecidas com um filme, o que nos ajuda a entrar ainda mais na mente da personagem.
Isso tudo com a ajuda de um elenco poderoso, que consegue ser dramático e cômico ao mesmo tempo, entregando um final surpreendente e emocionante, que faz com que você queira vibrar com a protagonista, levantar da poltrona e aplaudir em pé, como se estivesse em um show de rock. E não pense que por ser um filme em preto e branco ele será chato ou antiquado. A diretora estreante soube reverter isso muito bem, misturando cortes de cena no estilo do cinema antigo com uma trilha sonora pop e moderna. São tantas coisas boas para falar de Ainda Temos o Amanhã que me faltariam caracteres. Para quem está lendo e vai assistir a esse belo filme no cinema, aprecie a mensagem que ele passa. Não perca as esperanças. Não desista. Pois ainda temos o amanhã.
Confira o trailer
Ainda Temos o Amanhã | Estreia 04.07 | Dir. Paola Cortellesi | Drama e Comédia | 118 min | Itália
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