Por Pedro Rosis
Bem-Vinda, Violeta! é a adaptação para os cinemas do livro Cordilheira, escrito por Daniel Galera, grande autor contemporâneo brasileiro, que inclui em suas obras os sucessos de público e crítica Barba Ensopada de Sangue e Meia-Noite e Vinte. Aqui, além de fornecer o material base, foi uma espécie de consultor do roteiro, escrito por Fernando Fraiha, que também dirige, e a uruguaia Inés Bortagaray, que você conhece pelo roteiro do aclamado filme A Vida Invisível, de Karim Aïnouz.
A história segue Ana, escritora que vai participar de um renomado laboratório literário na Terra do Fogo, em meio à Cordilheira dos Andes, para escrever seu novo romance: Violeta. Lá, ela conhece Holden, criador de um método no qual os escritores abandonam suas próprias vidas para viver como seus personagens. Intrigada pela sua investigação artística, Ana mergulha no método e passa a viver como Violeta, até que sua ficção sai do controle.
Débora Falabella dá vida à protagonista numa atuação fenomenal, a qual é um dos principais elementos que permitem ao espectador ser carregado pelo filme e viver os sentimentos e dificuldades da personagem. Em entrevista no Festival do Rio, ela comentou sobre as semelhanças com o processo de preparação de um ator para viver um personagem. Só que, no caso do filme, Ana leva a experiência “até às últimas consequências, mas isso me instigou demais”, conta a atriz.
A fala de Débora traz um ponto crucial do filme, o processo criativo. Filmes como Adaptação, de Spike Jonze, já abordaram essa temática nas telas de cinema. Entretanto, aqui temos uma jornada íntima do que é encontrar um livro de dentro do autor para as páginas de papel. Entramos nas emoções de Ana e vemos como funciona esse processo.
Um importante aliado para o desenvolvimento deste processo é o personagem Holden, vivido pelo argentino Darío Grandinetti, que venceu o prêmio de melhor ator no Festival do Rio pelo filme. O ator faz parte do hilário Relatos Selvagens e do melodrama Fale com Ela, de Almodóvar. Aqui, ele interpreta um líder excêntrico, que comanda o laboratório e conduz Ana às mais diversas vivências, desafiando a linha do que é liderança e poder.
Não poderia fazer mais sentido o cenário dos Andes para a história. A imensidão do lugar reflete a trajetória da protagonista em produzir sua arte e encontrar respostas. A belíssima direção de fotografia de Gustavo Hadba, que alterna entre planos estáticos e uma instigante câmera na mão, eleva a criação visual. Esses componentes incitam o espectador, fazendo com que ele mergulhe na jornada de Ana, levando-o a refletir sobre suas próprias escolhas.
Essa coprodução entre Brasil e Argentina, com grandes talentos dos dois países e fortes atuações, fala sobre o fazer artístico e, com certeza, se você gosta de arte, ele vai interessar.
Confira o trailer
Bem-Vinda, Violeta! | Estreia 04.05.2023 | Dir: Fernando Fraiha Brasil/Argentina | Drama/Suspense | 107 min.
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