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Capitu e o Capítulo - Um idílio poético à la Bressane (ou bressaniano)

Por Roberta Ribas


A paixão escancarada de um dos romances mais célebres de Machado de Assis, Dom Casmurro, em livre adaptação na visão do prolífico diretor brasileiro Júlio Bressane, que dirigiu seu primeiro longa, Cara a Cara, em 1967, e rapidamente se tornou uma personalidade do cinema marginal nacional, trazendo como marcas registradas a sátira, o absurdo, a subversão narrativa e a colagem de imagens. Bressane fundou uma produtora junto com o também cineasta Rogério Sganzerla, outro digno representante do cinema marginal, e optaram por um modelo de realizar filmes de baixo custo e produção, conseguindo rodar seis longas-metragens em apenas seis meses.


Ele, que realizou obras marcantes como Matou a Família e Foi ao Cinema (1969), Tabu (1982), Dias de Nietzsche em Turim (2001), Filme de Amor (2003) e Cleópatra (2007), entre muitos outros, agora nos apresenta este Capitu e o Capítulo, que fez parte da seleção oficial do Festival de Rotterdam de 2021, na Holanda. Mas não espere uma adaptação tradicional sobre uma relação mais do que conhecida do grande público. No filme, você verá um recorte de situações e citações. De capítulos. Com planos poéticos e composições artísticas, sonorização peculiar (sons não diegéticos) e narração fragmentada, que alterna entre Dom Casmurro, Bentinho e Capitu, e seu amor permissivo. Além de divagações sobre poetas diversos.


Com a proposta de ser um ensaio, o longa apresenta a inquietação dos sentimentos humanos primitivos de Bentinho, perdido de ciúmes pela sua tão amada e complexa mulher, Capitu. Com intrigas criadas pela sua paranoia e devaneios. Uma paixão visceral vista através de uma nova perspectiva. A "distorção" (como diz o diretor) do clássico da literatura brasileira, de 1899, retoma a deglutição literária a que o cineasta se dedica há tantos anos e incorpora uma estética de solavancos e interrupções. Capitu-capítulo já é um poema concreto, similar à estrutura do romance originário, que tem mais de 200 páginas, divididas em mais de 100 capítulos. Capítulos breves, suspiros, fragmentos… Os personagens dançam sem música, desenham sem terminar o traço, têm quadros na parede sem admirar, conversam em frente a espelhos sem olhar.


O elenco traz Mariana Ximenes como Capitu, Vladimir Brichta como Bentinho, Djin Sganzerla como Sancha e Enrique Diaz como o narrador/personagem-título do romance (que intercala suas memórias com digressões sobre poesia – os românticos brasileiros, mortos antes dos 25 anos, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu…).

Todos em atuações bem teatrais, que agregam à estética singular escolhida pelo diretor, que dispersam o tempo e o espaço, e trazem um embate entre a tradição e a modernidade. Olhares, atitudes, vicissitude e passionalidade. Bressane sendo Bressane. Um mergulho no mar de ressaca de Capitu.


Confira o trailer



Capitu e o Capítulo | Estreia 27.07.23 | Dir: Julio Bressane | Brasil | Romance/Drama | 75 min.

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