De mãos dadas com a loucura
Jessica Castro
Coringa: Delírio a Dois, dirigido por Todd Phillips, leva o público a uma nova e envolvente jornada no universo já conhecido do icônico vilão da DC. Com estreia marcada para 2 de outubro, o longa-metragem é apresentado em um formato inesperado: um musical. O longa apresenta Joaquin Phoenix retornando ao papel de Arthur Fleck, e Lady Gaga interpretando a misteriosa Harley Quinn, em uma busca para explorar as entranhas emocionais e psicológicas de seus personagens, num contexto no qual o amor, a loucura e a música se envolvem.
A história se desenrola em Arkham Asylum, onde Arthur, mais conhecido como Coringa, está aguardando seu julgamento pelos crimes cometidos no filme anterior. Durante seu confinamento, Arthur se depara com uma nova realidade: ele conhece o amor verdadeiro e, ao mesmo tempo, descobre uma inesperada conexão com a música. Essa relação se transforma na força motriz da trama, que busca explorar a dualidade entre a violência e a beleza, a sanidade e o delírio.
Phoenix, mais uma vez, entrega uma atuação visceral. Seu retrato de Arthur Fleck continua sendo marcado por uma corporalidade perturbadora e uma capacidade ímpar de expressar emoções contraditórias. Lady Gaga, por sua vez, adiciona uma nova dinâmica a esta leitura. Sua interpretação de Harley Quinn não segue o padrão já estabelecido em outras adaptações da personagem. Ao contrário, ela traz vulnerabilidade e intensidade singulares. A química entre os dois atores é palpável, e seus momentos musicais juntos são tão tocantes quanto perturbadores.
A fotografia e o desenho de produção também se destacam. O ambiente opressivo de Coringa é contrastado com momentos fantasiosos, em que a música e a fantasia tomam conta, oferecendo ao público vislumbres de como Arthur e Harley percebem o mundo à sua volta. Essas transições entre o real e o imaginário são feitas de maneira fluida, reforçando a ideia de que, para eles, a linha entre a realidade e a ilusão é tênue.
A trilha sonora exerce um papel importante por si só. As canções escolhidas e compostas para o longa ajudam a construir a tensão emocional e oferecem um novo olhar sobre as motivações dos protagonistas. Cada número musical parece ter sido cuidadosamente orquestrado para refletir o estado mental de Arthur e Harley, elevando o longa de uma mera sequência a algo mais próximo de uma ópera trágica.
No entanto, Coringa: Delírio a Dois não está imune a críticas. Alguns podem argumentar que a inclusão do formato musical pode afastar parte do público que esperava uma narrativa mais linear e sombria, semelhante ao Coringa de 2019, também realizado por Todd Phillips. Além disso, há sequências que tendem a parecer excessivamente longas ou desconexas, mas, no entanto, essas escolhas artísticas são coerentes com o tema central da obra: o caos e a loucura que não seguem uma lógica previsível.
Temos aqui uma obra ousada.Todd Phillips conseguiu criar uma composição que foge da obviedade e, apesar de suas peculiaridades, oferece uma experiência cinematográfica rica para ser apreciada na tela grande do cinema. Ao incorporar elementos musicais e mergulhar no relacionamento entre Arthur e Harley, o filme não apenas expande o universo do Coringa, mas também oferece uma reflexão sobre a natureza da loucura, do amor e da aceitação.
Confira o trailer
Coringa: Delírio a Dois | Estreia 03.10.2024 | Dir. Todd Phillips | EUA | Thriller/Drama/Musical | 138 min
Comments