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Dançando no Silêncio: A expressão que vem da alma

Por Larissa Reis


Houria, título original do filme e nome da personagem principal vivida por Lyna Khoudri, em sua origem islâmica significa liberdade e perseverança. E é isso que Dançando no Silêncio vai nos mostrar. O filme, que se passa na Argélia, acompanha um grupo de dançarinas que sonham em fazer carreira no balé clássico do país. Além da dança, Houria trabalha como arrumadeira em um hotel junto com sua amiga, e à noite faz apostas ilegais nas ruas. Após tirar a sorte grande, e receber o maior prêmio da noite, Houria é perseguida por um desconhecido e agredida, até que sofre um grave acidente que vai mudar a sua vida para sempre.


Seus sonhos como bailarina clássica desaparecem. Sua fala também se extingue. Repentinamente muda, Houria não se comunica mais, exceto em linguagem de sinais e se manifestando através da dança. Na instituição que a acolhe, ela vive rodeada de mulheres que também já sofreram algum trauma: uma jovem deficiente, uma mãe de luto pelos atentados de 1990 na Argélia e uma esposa repudiada. Ao se conectar e passar mais tempo com esse grupo de mulheres, Houria transforma a dança em um instrumento de reabilitação física e moral.


O filme retrata uma experiência vivida pela própria diretora, Mounia Meddour, a mesma de Papicha, lançado nos cinemas brasileiros em 2019. Ela narra o isolamento, a solidão e a incapacidade, mas sobretudo a reconstrução e o renascimento. Além disso, a diretora pinta o retrato de uma Argélia política, os traços de um terrorismo que assombra o país há décadas, e a fuga dos migrantes.


Basicamente, a obra oferece tanto o retrato de uma jovem ferida que ficou muda após um trauma, quanto a descrição de um país prejudicado pela burocracia administrativa e política. Houria apresenta o perfil de uma mulher e de uma geração que tenta se destacar em uma sociedade que a quer invisível e submissa. Com cenas lindas sobre as belezas escondidas da Argélia, como o mar, as ondas e o sol que acalenta o nosso coração depois de tanta dor vista na tela.


Danças sem música, diálogos sem palavras, tudo é passado pelo gesto, tanto na doçura como na angústia. Close-ups de corpos e as almas feridas pelo terrorismo e pela violência. A força que uma mulher emana quando é quebrada e precisa se reerguer e continuar a viver. E não só uma mulher, mas sim um grupo cheio delas, que se apoiam para encontrar uma válvula de escape de destinos difíceis com energia, criatividade e união.


Vale destacar (e muito!) a atuação de Lyna Khoudri, que brilha em seus movimentos leves e ao mesmo tempo fortes, e também cheios de graça. Ela encontra uma harmonia que unifica todos os elementos do filme. A grande dançarina e artista de cinema se misturam no mesmo e misterioso talento: não se esforçar para brilhar em cena.


Dançando no Silêncio vai muito mais longe do que poderia ser mais um filme de dança. Aqui, a arte coreográfica é bem mais que uma ferramenta de reparação, é uma arma de resistência. É sobre conexões humanas, é sobre amar e ser amado, sobre estar quebrada e permanecer quebrada (e aprender a viver com isso). Em síntese, é sobre estar viva e lutar para permanecer viva.


Confira o trailer



Dançando no Silêncio | Estreia 04.05.2023 | Dir. Mounia Meddour Argélia/França | Drama | 104 min

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