A francesa Isabelle Huppert é mundialmente consagrada há um bom tempo. Com 50 anos de carreira, a atriz tem uma filmografia que já chega a quase 150 títulos, entre os quais encontramos muitas obras de cineastas aclamados, mas há também um número considerável de novos diretores com quem ela vem trabalhando, talentos ainda em fase de amadurecimento.
E este é o caso de Belas Promessas, segundo longa-metragem do francês Thomas Kruithof, que apesar da pouca experiência na direção, demonstra ter mão firme ao contar a história de Clémence Collombet, uma mulher da política, prefeita de um distrito da França, onde há um grande conjunto habitacional em péssimas condições, mas que ela prometeu aos moradores uma reforma digna até o final deste que é seu segundo mandato. Acontece que os seus dias de prefeita estão chegando ao fim, as obras nem começaram, e ela não pretende se candidatar pela terceira vez.
Clémence é muito amada e respeitada por aquela população, formada por imigrantes em sua maioria, e encerrar sua administração sem cumprir essa bela promessa pode destruir para sempre a reputação impecável que construiu ao longo de anos. Para o projeto se concretizar, ela precisa receber uma alta verba estatal, de 63 milhões de euros, mas há grandes empecilhos burocráticos e o tempo é curto para pegar a grana e transformar aquela imensidão de prédios caindo aos pedaços, com inundações e rede elétrica cheia de gambiarras, em residências decentes para o seu povo.
E para tornar a situação ainda mais complicada, ela tem que lidar com jogos de interesses paralelos, de natureza nada nobre: há uma espécie de capataz infiltrado entre os moradores, a quem eles são obrigados a pagar um aluguel pelos apartamentos que ocupam. Esse bandido trabalha para um veterinário que adquiriu boa parte dos imóveis a preços irrisórios, quando os primeiros proprietários decidiram deixar a região devido ao abandono da administração pública. Agora, esse velho inescrupuloso vive de explorar os pobres que não têm para onde ir.
A encrenca é mesmo enorme, e chega a dar desespero no espectador que, em certos momentos, deve se perguntar como essa mulher consegue dormir à noite. Realmente não é nada fácil ser Clémence Collombet. Solteira e com um filho adulto que já tomou o próprio rumo, ainda bem que ela tem o apoio de Naidra, sua competente secretária, e do chefe de gabinete Yazid, seu fiel escudeiro, um homem que foi criado naquela mesma região que hoje está, literalmente, em estado de calamidade pública.
Em meio a tudo isso, acontece algo muito inesperado (não contém spoiler): Clémence é convidada para ser Ministra da Habitação, quando deixar de ser prefeita, com a bela promessa de que isso a levaria ao mais alto patamar de sua vida pública. Mas ela já tinha dado claros sinais de que estava decidida a abandonar a política. E agora? E o risco de entrar de cabeça numa nova campanha sem finalizar a maior obra de sua carreira? São muitos os dilemas desse filme cheio de surpresas, armadilhas, trapaças e chantagens. Ninguém, até o minuto final, poderá imaginar as últimas estratégias de Clémence para vencer sua exauriente batalha. Mas como ela própria diz, “o impossível é um convite para o desafio”.
Belas Promessas | Estreia 12.01.2023 | Dir. Thomas Kruithof | França | Drama | 98 min.
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