O sonho mais caro e arriscado de Coppola
Murilo Brum
O lendário diretor por trás de O Poderoso Chefão e Apocalypse Now, Francis Ford Coppola retorna aos cinemas com seu mais novo (e polêmico) filme, Megalópolis. A trama é uma fábula épica romana na América atual, ambientada na cidade fictícia de Nova Roma, com foco no conflito entre César Catilina (Adam Driver), um arquiteto idealista que sonha em reconstruir a metrópole com um novo material e uma nova filosofia, e o ganancioso prefeito Franklyn Cicero (Giancarlo Esposito), comprometido com uma política conservadora e interesses pessoais. Os dois, então, se confrontam numa controvérsia em torno de uma reestruturação governamental em oposição à continuidade do sistema corrupto instalado. Entre eles está a socialite Julia Cicero (Nathalie Emmanuel), filha do prefeito, cujo amor por César dividiu sua lealdade, tentando decidir sobre qual futuro a humanidade merece.
A ideia do longa-metragem surgiu ainda em 1980, mas Coppola não tinha verba para começar sua produção. Durante décadas ele buscou financiamento de grandes estúdios, mas sem sucesso. Então, ele finalmente decidiu bancar o filme com o próprio dinheiro. Orçado em cerca de 120 milhões de dólares, para iniciar as gravações o diretor precisou vender algumas de suas propriedades e parte da vinícola que possui na Califórnia. Visto como o projeto mais ambicioso da carreira dele, e talvez a ficção científica mais aguardada do século, Megalópolis teve sua première mundial no mais recente Festival de Cannes onde dividiu opiniões. Estranho, ousado e instantaneamente polêmico, entre a imprensa e o público do evento as reações foram desde “uma nova obra-prima do cinema” até “um dos piores e mais pretensiosos filmes do cineasta”.
A inspiração faz referência explícita ao Império Romano dentro de uma grande paisagem futurista, na qual tecnologias avançadas contrastam com a arquitetura e os modismos da Roma Antiga. Nesse cenário, Coppola reflete sobre as estruturas de poder mundial traçando paralelos históricos e culturais com a situação atual dos EUA, e oferece previsões nada otimistas para a humanidade, tocando em temas bastante contemporâneos como cancelamento e popularidade. Existe um desejo concreto do realizador em tornar Megalópolis uma experiência ímpar e jamais vista, proporcionando um bombardeio de estímulos e inovações que tanto podem agradar como gerar o mais agudo estranhamento. Extremamente audacioso, a sua própria existência como produto audiovisual chega como um desafio sem precedentes dentro de uma indústria que cada vez mais padroniza seus filmes para comercializá-los com facilidade.
Ame ou deteste, Megalópolis é, sem sombra de dúvida, um trabalho que merece sua atenção e respeito. Um filme concebido por um visionário disposto a colocar em jogo as próprias finanças para nos dizer como é necessário abraçar a arte, por mais confusa, complicada e anticomercial que ela seja. Por tudo isso – e por se tratar de uma criação de um dos maiores diretores vivos da história do cinema – este lançamento é, sim, um dos mais importantes do ano. Ou seria do século?
Confira o trailer
Megalópolis | Estreia 31.10.2024 | Dir. Francis Ford Coppola| EUA | Ficção Científica/Drama | 138 min
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