Por Murilo Brum
E se você tivesse um último encontro com alguém que se foi cedo demais? O que você faria? Sobre o que conversariam? Esta é a fantasiosa premissa de Todos Nós Desconhecidos, filme britânico de Andrew Haigh, adaptado do livro Strangers, de Taichi Yamada, que estreia nos cinemas brasileiros no dia 29 de fevereiro.
Adam, interpretado por Andrew Scott, é um escritor de 40 anos que está tentando escrever um roteiro sobre as lembranças que tinha com seus falecidos pais, que morreram em um acidente de carro quando ele tinha apenas 12 anos. Ele nunca conseguiu superar totalmente esse trauma. Neste processo criativo, em busca de pesquisas para sua história, Adam decide visitar a casa que morou na infância. Chegando lá, ele encontra os pais morando na casa, sem terem envelhecido nada, exatamente como eram 30 anos atrás.
Em vez de se assustar, ele aproveita a oportunidade para ter todas as conversas que gostaria de ter tido e compartilhar acontecimentos importantes de sua vida. Coisas que um homem adulto diria aos pais que perdeu na infância. Quem não aproveitaria a chance de recuperar o atraso? De pedir conselhos e receber elogios cheios de orgulho? Junto a isso, Adam acaba de iniciar um relacionamento com seu vizinho Harry, interpretado pelo brilhante Paul Mescal, que o ajuda em suas questões por possuir experiências semelhantes de solidão, medo e tristeza.
Todos Nós Desconhecidos é uma história linda e cheia de emoção, é como se Adam estivesse entrando e saindo repetidamente de um sonho. O diretor Andrew Haigh cria sutilmente uma sensação de confusão, no que é realidade e no que é ilusão, para transmitir a tristeza de Adam e seu desejo de contar sua história aos falecidos pais.
Evitando o sentimentalismo barato apenas para tirar uma lágrima do espectador, o filme é uma experiência sincera e delicada que transforma um conceito imaginário em uma narrativa extraordinária, captando de forma brilhante o complexo processo de luto, de como lidar com os múltiplos traumas que se acumulam dentro de nós, e a tentativa de superá-los. Um tributo ao amor, à morte e à própria vida.
De tempos em tempos assistimos a algum filme que nos agarra pelo coração e não se desprende tão fácil. Foi exatamente isso o que senti com Todos Nós Desconhecidos. É o tipo de história humana que faz você sair completamente impactado do cinema e com a certeza de que ficará dias pensando nela.
Confira o trailer
Todos Nós Desconhecidos | Estreia 29.02.2024 | Dir. Andrew Haigh | Reino Unido | Drama | 105 min
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