Por Marina de Castro Alves
“Este não é um lugar que você conhece”, um dos versos de “Both Sides of the Blade”, música original composta para “Com Amor e Fúria”, parece alertar Sara sobre algo importante. Você sabe onde está entrando, Sara?
Vivida pela musa Juliette Binoche, Sara é a personagem principal de “Com Amor e Fúria”, novo filme de Claire Denis, que fez sua estreia mundial no Festival de Cannes deste ano, e chega aos cinemas brasileiros em 03 de novembro. Denis também assina o roteiro, em parceria com Christine Angot, que foi sua colaboradora em “Deixe a Luz do Sol Entrar” (2017), também protagonizado por Binoche. O trio retorna às telas mais uma vez com uma história comum – neste caso, um triângulo amoroso – e igualmente repleta de complexidade.
O filme nos apresenta Sara em um paraíso à beira mar, com seu companheiro Jean, interpretado por Vincent Lindon. Sara e Jean estão visivelmente apaixonados e felizes. Quando eles retornam a Paris, descobrimos que Sara é uma apresentadora na Radio France International, e Jean é um ex-jogador de rúgbi que passou um tempo na prisão por um crime desconhecido. Jean tem um problemático filho adolescente, Marcus, fruto de um relacionamento anterior, que é criado pela avó, mãe de Jean. Eles moram a três horas de Paris e recebem visitas esporádicas de Jean, que pouco se esforça para ajudar na criação do garoto.
Com a câmera bem próxima a seus atores em quase todas as cenas, a diretora nos insere neste pequeno drama familiar que mantém sua linearidade até o momento em que Sara vê na rua seu ex-amante, François (Gregoire Colin). Ficamos em dúvida se ele também a vê. Sara fica completamente tomada de emoção. Muito abalada, quase não consegue se manter em pé! Aos poucos, descobrimos que Sara e François estavam juntos quando ela começou a sair com Jean. E para tornar essa situação ainda mais francesa, François e Jean eram amigos e parceiros de negócios na época. Voltando ao presente, François convida Jean para abrirem um negócio juntos. Nesse ponto, ficamos em dúvida sobre qual a real intenção dele: ajudar o amigo ou se reaproximar de Sara? A partir daí a história se torna um triângulo amoroso ainda mais complicado do que a maioria costuma ser.
E se você é daqueles que gostam de torcer por um personagem ou por um lado da história, neste caso será difícil. Você pode, sim, odiar um pouco ou muito cada um deles, mas não há como manter-se alheio ao conflito. E não são poucos os motivos para tanto magnetismo. As interpretações de Binoche e Lindon são espetaculares! Ver Paris do alto das varandas de seus prédios, nos dá alívio e alguma trégua dentro dessa complicada relação. E o diretor de fotografia, Eric Gautier, tem o dom de nos confinar em ambientes e situações de extrema intimidade, seja em brigas com suas verdades letais, seja nas cenas de sexo. Nos sentimos como eles: sem espaço para respirar depois de uma decisão ruim.
Com amor, fúria e muita sedução, Claire Denis nos entrega um thriller passional e cheio de vida real, e novamente nos mostra que está apta a permitir que os espectadores sejam cúmplices das ações de seus personagens.
Retornando à música-tema, composta e interpretada pela banda inglesa Tindersticks, com o vozeirão grave e potente de Stuart Staples (que cai como uma luva para o filme), ela nos faz concluir que sim, que Sara já sabia onde estava entrando. Não era a primeira vez que ela escolhera estar ali.
Confira a programação de 10/11 a 16/11
Petra Belas Artes
18h20
Espaço Itaú de Cinema - Augusta
21h30
Espaço Itaú de Cinema - Frei Caneca
19h30 | 21h40
Reserva Cultural
19h
Espaço Itaú de Cinema - Pompeia
19h30
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