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Segundo Tempo: 3 perguntas para Rubens Rewald

Por Thaisa Zanardi


A trajetória de uma família é a questão central em Segundo Tempo, quarto longa- metragem ficcional de Rubens Rewald. O filme, que estreia nos cinemas em 16 de março, evidencia os irmãos Ana e Carl, que estão em busca de suas verdadeiras identidades depois de uma grande perda.


Por que a busca pela história da família se tornou o principal fio condutor do longa?


Sou de uma família de imigrantes, meu pai veio da Alemanha, minha mãe é filha de mãe turca e pai húngaro. Então, sempre vivi no meio de imigrantes e cresci ouvindo diferentes sotaques e histórias de suas terras, num misto de nostalgia e horror. Sim, havia saudosismo em tais relatos, mas também haviam histórias tristes, duras, cruéis e uma certeza de que o Brasil foi um país acolhedor para eles. Essas histórias são tão fortes, mas tendem a sumir, pois as pessoas estão cada vez mais focadas em suas próprias histórias, problemas cotidianos, falta de dinheiro, falta de perspectivas, amores difíceis, mídias sociais, embates políticos, enfim, o aqui e agora, e não estão preocupadas com suas origens, a trajetória de sua família, suas identidades. Parece que vivemos num eterno presente, sem passado, nem futuro. E isso diminui bastante nossa experiência na vida, nossa compreensão de nosso lugar no mundo. Por isso quis falar um pouco da importância de conhecer nossa história, nossas raízes.

O filme possui diversas camadas e uma vai revelando a outra ao longo dos frames, para além de uma questão de ritmo e roteiro, o que te levou a tratar de outras temáticas no decorrer do filme?


Isso é uma característica de meus filmes e peças. Não há nunca um só tema, um só problema. Pois isso não é a nossa experiência. Vivemos uma vida “multiplot”, onde os problemas afetivos se misturam com os problemas profissionais, financeiros, familiares, políticos. Um dia você está bem pois fez um bom trabalho profissional, mas daí briga com o parceiro amoroso e isso tira todo o prazer da alegria profissional, ou então você está mal pois a conta do dentista saiu super cara, mas daí o seu candidato a presidente ganha a eleição e então tudo melhora. Na nossa experiência de vida não cabe a norma aristotélica da unidade de ação, do problema único, somos o receptáculo de muitas questões e conflitos que correm entrelaçados em nossas vidas, e tento reproduzir essa lógica nos meus filmes.

Na sua visão, qual a importância de se fazer uma busca da própria ancestralidade?


É fundamental! Descobrimos coisas muito importantes sobre o jeito que somos e como agimos. Passamos a aceitar certas características nossas que muitas vezes tentamos negar. E nos conectamos com nossa história, nossos pais, avós, antepassados, numa corrente de afeto e compreensão. Assim como é importante conhecer a história do nosso país para melhor compreender certas questões sociológicas enraizadas e sabermos então como lidar com elas e como transformá-las. O mesmo vale para o indivíduo: é importante conhecer minha história para melhor lidar com minhas questões recorrentes e ter uma noção melhor de como transformar minha existência e seguir adiante. Simples assim.

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