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A angustiante busca pelo belo

Imagine: é final do século XIX e você é uma Imperatriz cheia de dramas familiares, depressão e obcecada pela própria beleza. Parece interessante? Pois o filme Corsage, escrito e dirigido pela austríaca Marie Kreutzer, conta a história de uma Imperatriz de verdade, a Elizabeth da Baviera, também conhecida como Sissi, e toda a sua trágica vida. Trata-se daquela mesma Sissi retratada na famosa trilogia de filmes do diretor Ernst Marischka, imortalizada pela atriz Romy Schneider.


Sua conturbada biografia é mesmo digna de virar filme. Natural do Reino da Baviera, um estado germânico que existiu entre 1805 e 1918, ela nasceu no dia 24 de dezembro, véspera do Natal de 1837, casou-se aos dezesseis anos, viveu sobre a constante pressão da corte e de sua posição de Imperatriz Consorte da Áustria, era muito obcecada com seu físico, e vivia de dietas muito rígidas. Prestes a completar 20 anos, perdeu sua primeira filha para uma doença, após levá-la para visitar a Hungria. Em decorrência desse acontecimento, Sissi, que já era propensa à depressão, continuou sua vida em extrema melancolia.


Já deu para você perceber que Sissi realmente não foi feliz. Mas Corsage acrescenta boas doses de ousadia e irreverência à trajetória dessa mulher que se sentia solitária e, para fugir da Áustria e das pressões de sua vida na corte, viajava muito. Inclusive, uma de suas viagens virou reinado, e assim ela colaborou para a criação do Império Austro-húngaro.


No filme, Elizabeth é uma mulher que luta pelo seu espaço, luta para ser ouvida por seu marido, o Imperador Francisco José I, e por ser respeitada pelos seus filhos, mesmo sem sucesso. Na intimidade, ela passa mais tempo com suas damas e arrumando seus cabelos, que sempre foram sua marca registrada. Tão vaidosa quanto volúvel, ela passa por constantes transformações, troca de opiniões como quem troca de roupa, e adota um ar esnobe sobre a sua beleza. Ao entrar de cabeça em dietas rigorosas e exercícios físicos que debilitam sua saúde, a Imperatriz perde o controle sobre a tendência narcisista que sempre a acompanhou, e isso acaba corroendo o cerne das suas relações.


Corsage é um brilhante filme dramático que mostra o poder do feminino oprimido, e ganha ainda mais força na excelente atuação da luxemburguesa Vicky Krieps (atriz de Tempo, de M. Night Shyamalan), que levou o merecido prêmio Un Certain Regard de Melhor Interpretação no Festival de Cannes 2022. Os outros atores também têm atuações bastante convincentes, e não é difícil odiar o marido de Sissi, vivido pelo ótimo Florian Teichtmeister, que a trata como se ela fosse uma maluca, além de influenciar os filhos a não respeitarem a própria mãe.


Você também vai se emocionar com o lado sensível e humano da relação de Sissi com os doentes e, principalmente, com as mulheres internadas em clínicas psicológicas. O filme transmite com rara sensibilidade as dores da personagem e sua profunda agonia a cada cena, a cada olhar, e a cada decisão tomada.


E a cereja do bolo: uma versão acústica de As Tears Go By, dos Rolling Stones, tocada na harpa com cenário de arrepiar! Então, se você se interessa por História, vestidos enormes, bigodes de mentira e excelente trilha musical, este filme é mais do que recomendado.


Corsage | Estreia 12.01.23 | Dir. Marie Kreutzer | Áustria, Luxemburgo, Alemanha | biografia/drama/história | 113 min.

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