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"Aftersun" é um exercício de olhar para trás e reviver a infância e o passado


"Aftersun" é um filme semi-autobiográfico que retrata, mesmo que vagamente, a própria vida da diretora e roteirista escocesa Charlotte Wells. O longa se passa no final dos anos 90, e se concentra na história de Sophie, uma pré-adolescente de 11 anos, e Calum, seu jovem pai solteiro, vividos por Frankie Corio e Paul Mescal, conhecido por seu papel na minissérie Normal People. Tudo gira em torno da reflexão que Sophie teve dela e seu pai nas férias que tirou com ele, 20 anos atrás. Nesse flashback, eles decidem passar uns dias de descanso em um resort um tanto quanto decadente na Turquia, e à medida que o mundo da adolescência se torna cada vez mais próximo, seu pai tenta lutar com o peso da vida fora da paternidade.


Sophie é muito inteligente para a sua idade, mas também muito criança e, às vezes, ela chega a ser confundida com uma possível irmã de seu pai. Ela não sabe exatamente em qual grupo se encaixa, entre o das crianças mais jovens e o dos adolescentes barulhentos. Já Calum, exibe uma expressão calma, de quase transe, mas que ao mesmo tempo ameaça romper a superfície caótica ou eufórica. Ou como foi descrito pela diretora, ele possui uma angústia silenciosa.


Com takes de uma câmera propositalmente amadora, o filme demonstra a simplicidade da convivência entre pai e filha, os olhares de soslaio e admiração, um suspiro profundo de uma conversa banal e o silêncio melancólico durante o jantar. Mas, a verdadeira – e cruciante – história do longa acontece através da linguagem corporal de Paul Mescal, que transmite com precisão o afeto pela filha enquanto se esforça para oferecer a melhor viagem de férias que ela poderia ter. Além de todo esse floreio, existem também as angústias, medos e insatisfações que nunca foram colocados para fora, apesar de nítidos nas expressões do pai.


"Aftersun" se desenrola como um estudo de personagem habilmente orquestrado, empático e honesto, lindamente construído e capturado com coração e engenhosidade pela diretora, que não tem medo de brincar com enquadramentos e arriscar estilo para ilustrar sua história. Merece atenção a deliciosa trilha musical, que vai de Blur a All Saints e nos leva de volta aos saudosos anos 90, incluindo uma versão de Losing My Religion, do REM, que vai emocionar até os corações mais durões.


O filme, que teve sua estreia mundial no Festival de Cannes deste ano, e levou o Prêmio do Júri de Melhor Filme da Competição Novos Diretores na Mostra Internacional de São Paulo, fala muito sobre a memória e como certos momentos permanecem conosco para sempre, assim como nossa interpretação de eventos passados pode diferir do que realmente aconteceu.


Estreia 01.12.2022 | Dir. Charlotte Wells EUA/Reino Unido | Drama | 96 min.


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