Por Murilo Brum
Em Disco Boy – Choque Entre Mundos, filme do italiano Giacomo Abbruzzese, Aleksei é um jovem bielorrusso que, buscando maiores oportunidades, foge de sua terra natal e se junta à Legião Estrangeira Francesa, um órgão do exército francês que oferece a estrangeiros refugiados a chance de, após cinco anos, terem o direito a um passaporte francês. Ao dedicar-se à vida militar, à ordem e subordinação de uma espécie de colonialismo contemporâneo, Aleksei poderá pertencer a Europa.
Enquanto isso, no delta do Níger, Jomo é líder de um grupo de guerrilheiros armados contra a exploração estrangeira nessa região densamente povoada e em constante disputa com companhias petrolíferas internacionais que ameaçam a destruição da sua vila. Então, o grupo de Jomo sequestra líderes petroleiros de uma companhia francesa, o que leva a Legião Estrangeira a ser chamada para ajudar nesse combate e libertá-los.
Aleksei é enviado para comandar a operação, e neste épico e singular conto de guerra, seu caminho se cruza com o de Jomo. Destruição, sangue, delírios e as consequências de suas lutas marcarão para sempre a vida do jovem combatente. Inevitavelmente, os destinos de Aleksei e Jomo estão conectados. Como opositores, eles são duas almas perdidas que resistem para melhorar suas vidas. Enquanto Aleksei luta para ter uma nova pátria, Jomo o enfrenta para proteger a dele. É neste “choque entre mundos” que o filme se desenvolve, traçando um paralelo entre continentes. São duas histórias de sobrevivência num mundo moderno onde a fronteira é linha obsoleta quando se trata de escapar da morte.
E a fotografia e o som do filme têm um papel fundamental nessa viagem de denúncia e descoberta. Com uso de neon e belas paisagens noturnas, a câmera da francesa Hélène Louvart encontra luz e movimento mesmo na escuridão. Mais do que deleite estético, as imagens emanam o mistério, o perigo, e sinalizam os absurdos a que os protagonistas estão expostos. Tudo isso junto à trilha musical do famoso DJ francês Vitalic, que mistura sons penetrantes de sintetizadores transmitindo uma incrível sensação hipnotizante. O trabalho de Vitalic entra em perfeita sintonia com a fotografia de Hélène Louvart num impacto que foi minuciosamente pensado para a tela grande do cinema. De tão notável, o esmero técnico do filme acabou conquistando o prêmio de Melhor Contribuição Artística no Festival de Berlim deste ano.
Disco Boy – Choque Entre Mundos é o longa-metragem de estreia do promissor diretor Giacomo Abbruzzese. Sua obra dialoga com várias outras como Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola, e também, em certa medida, com Bom Trabalho, de Claire Denis, trazendo ainda um toque de Nicolas Winding Refn, realizador de Demônio de Neon, no sentido de espetáculo surreal. Mas tudo isso com uma identidade própria.
Alternando entre boate parisiense e selva nigeriana, o filme nos leva a uma viagem contínua passando por temas como geopolítica, ecologia, fronteiras, colonialismo, e a potência dos corpos – ora em guerra, ora dançando –, iluminados por uma sensual luz neon e ao som techno de Vitalic. O cinema é o único meio capaz de transformar imagens e sons em experiências sensoriais que comunicam ideias complexas sem a necessidade de palavras. E este filme é, sem dúvida alguma, um dos melhores exemplos disso.
Confira o trailer
Disco Boy – Choque Entre Mundos | Estreia 03.08.2023 | Dir. Giacomo Abbruzzese | França, Bélgica, Itália, Polônia | Drama/Guerra | 93 min
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