Dreams
- Jéssica Castro
- 3 de jun.
- 2 min de leitura
Sentir, amar e sonhar
Por Jéssica Castro
Todo mundo já viveu — ou escreveu mentalmente — uma fanfic da própria vida. Às vezes com finais felizes, outras com reviravoltas mirabolantes, mas sempre como um espaço íntimo onde todos os sentimentos ganham forma. Vencedor do Urso de Ouro de Melhor Filme no Festival de Berlim, Dreams, novo filme do norueguês Dag Johan Haugerud, mergulha nesse território delicado entre o real e o imaginado, nos conduzindo a um lugar onde a escrita pode ser tanto refúgio quanto explosão.
Terceiro filme da chamada “trilogia dos sentimentos” — iniciada com Sex e seguida por Love — este lançamento encerra o ciclo de Haugerud com uma narrativa de amadurecimento ao mesmo tempo sensível e provocadora. Desta vez, a história é contada a partir do ponto de vista de uma adolescente de 15 anos que, ao viver seu primeiro amor (intenso, confuso e proibido) por sua professora, tenta compreender e organizar o que sente por meio da escrita.
Interpretada com sutileza por Ella Øverbye, a protagonista Johanne canaliza suas emoções em um diário. Aos poucos, a paixão secreta ganha corpo numa narrativa rica em nuances. A relação da garota com a linguagem, quase poética, acaba transformando a escrita em um poderoso refúgio íntimo. Então, quando sua mãe e a avó encontram o texto por acaso, enxergam ali não apenas a confissão de um amor, mas o nascimento de uma possível escritora.
O diretor conduz o filme com a sensibilidade que caracteriza sua filmografia, abordando temas delicados, mas sem recorrer ao sensacionalismo. Em vez disso, aposta nas possibilidades dispostas nas entrelinhas, e, ainda, no poder da ficção como forma de escape diante da complexidade dos sentimentos.
Tanto no filme quanto fora dele, mais do que expressão, a escrita pode sim, representar uma poderosa forma de sobrevivência. E, em casos semelhantes ao que vemos neste filme, ela serve para desmitificar a mentalidade comum do mundo adulto, que insiste em interpretar, rotular e interferir nos sentimentos dos mais jovens sem, necessariamente, entendê-los. Ao mostrar o impacto da leitura daquele diário pelos olhos de outrem — ora com choque, ora com admiração — o longa desafia os limites entre arte, realidade, revelação e imaginação, nos levando a refletir se realmente sabemos interpretar ou nao as palavras de alguém como verdades absolutas.
Com Dreams, Dag Johan Haugerud encerra sua trilogia com um sussurro poderoso: o de que sentir, amar e sonhar são, por si só, atos revolucionários — especialmente quando vêm de quem ainda está aprendendo a existir no mundo.
Confira o trailer
Dreams | Estreia 26.06.2025 | Dir. Dag Johan Haugerud | Noruega | Drama | 110 min.
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