Por Thaísa Zanardi
Deixa que digam, que pensem, que falem, mas tem gente que veio ao mundo para brilhar. Prepare o seu coração, pois é isso o que você vai ver no documentário, quase poético, sobre Jair Rodrigues. Um homem que veio lá do Sertão, e que, de roceiro à alfaiate requisitado, se tornou um verdadeiro original do samba!
Jair Rodrigues – Deixa que Digam, dirigido por Rubens Rewald, perpassa por diversas sonoridades alcançadas pelo mestre Jair, que não se limitou ao samba e foi do pandeiro ao berrante, abraçando sua origem “caipira” do interior de SP e transitando pelo som sertanejo. Mas foi tão versátil que também poderia ir do rap ao repente.
O filme retrata tudo isso em paralelo com toques de sua vida pessoal e afetiva. Família e amigos marcam presença, com destaque para o filho, Jairzinho, que por vezes interpreta o pai, Jairzão (como é carinhosamente apelidado nas cenas), de forma sutil, narrando suas peripécias em primeira pessoa.
As imagens de arquivo captam a essência do “homem sorriso”, um músico versátil que alcançou notas altas e pontos altos da vida também ao lado de diversos artistas igualmente brilhantes, tais como Hermeto Pascoal, Roberta Miranda, Chitãozinho e Xororó, entre tantos outros, mas com grande destaque em seu início de carreira, o qual teve a companhia da rainha Elis Regina.
Sem dúvidas, o doc registra o quanto Jair Rodrigues é símbolo da história da música nacional e tenta explicar essa figura que, na realidade, é tão inexplicável e autêntica. Jair, literalmente, foi um precursor até na arte de pular no público, não só fisicamente, mas também com seu jeito cativante. Pois é, parece que ele ainda deixaria muito popstar “no chinelo”.
Nas imagens assistimos a um Jair sempre alegre, dançante, brincalhão e que, literalmente, planta bananeiras, não com ares de palhaço, mas de alguém que driblou a tristeza e sempre teve jogo de cintura na vida. Aquele que ao cair, não ficou no chão, aprendeu a improvisar uma canção.
Em alguns momentos, o longa sugere que Jair teve um longo período de pausa em sua carreira e o cenário musical tomou outras formas. Mas ainda assim, o músico é uma fonte inesgotável de talento e carisma. Ele pode sair das paradas, mas não do coração do brasileiro.
E como o que dá pra rir também dá pra chorar – e é tudo uma questão de peso e medida –, o filme, inevitavelmente, toca em feridas escondidas, tais como perdas enormes que o músico enfrentou. Sua história é extensa, e mesmo após sua morte parece não ter parado por ali. Seu legado foi deixado aos mais novos.
Fato é que devemos sempre saudar a quem nunca deixou o samba morrer. E, sem dúvida, ao assistir a esse documentário, ficará no espectador a inspiração de querer saudar sua majestade, o rei negro Jair Rodrigues!
Jair Rodrigues – Deixa que Digam | Dir. Rubens Rewald Brasil | Documentário 90 min
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