Por Thaisa Zanardi
Um filme que retrata toda a potência daquela que, mais do que uma graça de pessoa, foi – e sempre será – um ser “divino, maravilhoso”! Meu Nome é Gal, dirigido por Dandara Ferreira e Lô Politi, é uma ode à Tropicália em sua forma mais raiz, com foco em Maria da Graça Penna Burgos Costa, essa “força estranha” mais conhecida como Gal Costa. Inclusive, a escolha do nome artístico da cantora baiana é uma das icônicas cenas do filme, mas apenas um detalhe diante da potência de nossa amada “vaca profana”. O longa-metragem é uma extensão da pesquisa de Dandara sobre a vida da artista. A diretora lançou o documentário O Nome Dela é Gal e, anos depois, com aprovação da própria Gal, deu início à cinebiografia.
O projeto demorou em torno de cinco anos para ser produzido, com a grande honra e vantagem de ter acompanhado Gal ainda viva. Sophie Charlotte é quem dá corpo e voz à grande musa nas telas. Charlotte se dedicou ao extremo, vivendo uma imersão para o papel. Ela conta que ouviu diariamente músicas da época revisitada na obra, fez aulas de violão, conheceu mais a fundo a Bahia e arriscou cantar com a própria voz no filme. O que deu muito certo.
Além dela, temos outras grandes personalidades que fazem parte da jornada de Gal, representadas por atores muito bem escolhidos: Caetano Veloso (Rodrigo Lélis), Gilberto Gil (Dan Ferreira), Maria Bethânia (Dandara Ferreira, atuando dos dois lados da câmera), Dedé Gadelha (Camila Márdila), o produtor Guilherme Araújo (Luís Lobianco) – que compreendeu a preciosidade que eram aqueles baianos –, dentre outros.
O longa acompanha a trajetória de Gal desde a infância, em Salvador, quando ainda era chamada de Gracinha, passando por recortes de sua tímida chegada ao Rio de Janeiro, e mostra também que a cantora, apesar de inicialmente introvertida, sempre foi determinada e altiva no que diz respeito à música e à sua carreira. O encontro dela com o que viria a ser o movimento Tropicália potencializa sua essência e a ajuda a provocar uma revolução estética e comportamental que transforma toda uma geração. O movimento modifica a indústria, desafia a sociedade conservadora, e Gal se torna um dos principais nomes da música brasileira. Sophie a interpreta reproduzindo seus gestos, trejeitos, “caras e bocas”, mas com muito respeito e sem ser caricata.
Revivendo tempos áureos e outros muito sombrios, como, por exemplo, a fase da ditadura, Meu Nome é Gal traz diversos registros emblemáticos, entre elas o show Fatal, de 1971, que aconteceu no Rio e no qual Gal revelou toda a sua irreverência e coragem, mesmo em um período político tão conturbado.
Criada por mãe solo, que sempre a incentivou em tudo, Gal Costa honra uma geração de ancestrais fortes para se tornar a mulher que transformou o caminho de inúmeras outras que viriam depois. Aquela que, com a doçura de “baby” mas sem deixar de estar sempre “atenta e forte”, gravou em nossas memórias e corações hinos de afeto e coragem que jamais serão apagados. Meu Nome é Gal, canção composta por Roberto e Erasmo e que dá nome ao filme, é praticamente um mantra que a própria cantora entoou em muitos de seus shows, como uma marca registrada. Um mantra emanado através de sua voz lindamente estridente e que ecoa liberdade e autenticidade infinitas.
O filme é lançado há quase um ano do falecimento da cantora, como um atestado de nossa imensa saudade, um retrato afetuoso da dona da voz que abriu caminhos e “pontos de luz” por toda a cultura brasileira. Gal, para sempre “estratosférica”.
Confira o trailer
Meu Nome é Gal | Estreia 12.10.2023 | Dir. Lo Politi e Dandara Ferreira | Brasil | Biografia | 120 min.
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