Uma digna homenagem ao grande mestre
Por Lucas Viana
Milton Nascimento dispensa apresentações. “Ele é uma lenda viva", disse Esperanza Spalding ao saber que o músico não estava entre os convidados de honra do último Grammy, onde ambos concorreram juntos na categoria de Melhor Álbum Vocal de Jazz. Fãs e artistas se indignaram com a desfeita – e com razão. Eu recomendo a todos os integrantes da Recording Academy que assistam urgentemente ao maravilhoso documentário Milton Bituca Nascimento para reconhecerem o disparate que fizeram ao esnobar esse mestre da música.
O filme acompanha os bastidores da derradeira turnê, A Última Sessão de Música, encadeando histórias de sua trajetória pessoal e carreira. O documentário nos presenteia com lindos depoimentos de gênios como Paul Simon e Quincy Jones, fãs de Milton. E também mostra momentos preciosos de um músico em ação, citando influências, lembrando do processo de composição de seus clássicos, lidando com as dificuldades da vida de artista e fazendo música da mais alta qualidade com parceiros da elite, como Herbie Hancock. Mas prepare os lenços, porque Milton não transborda emoção somente no que é grandioso, mas também nas coisas simples, como em momentos em que ele conversa com o filho ou se despede, pela última vez, de seu amigo Wayne Shorter, falecido em 2023.
O documentário, narrado por Fernanda Montenegro, captura com maestria o inexplicável na obra de Milton. Caetano Veloso, Ivan Lins e Sérgio Mendes chegam até a divergir sobre qual é o gênero da música de Milton. Jazz, MPB ou algo único e inclassificável? Isso pouco importa perante o consenso de que sua obra é maravilhosamente simples, ainda que complexa, sublime e visceral, intelectual e espiritual. Como músico, Milton organiza o caos e unifica pessoas de várias épocas e diferentes lugares. Prova disso é que Milton é referência para todos: de arranjos de orquestras na Europa a tema da escola de samba Portela em 2025.
É incrível viver em uma época em que, cada vez mais, valoriza-se a importância de homenagear artistas geniais enquanto eles estão vivos. E o documentário de Flávia Moraes é, certamente, uma homenagem em formato de obra, de um criador para outro. É gratificante saber que até mesmo Spike Lee, que não é músico, admira e se inspira em Milton. Afinal, reconhecendo a máxima de que “nada se cria, tudo se transforma”, e sabendo que a arte de Milton segue inspirando diversas manifestações artísticas, em diferentes áreas, nada mais justo do que conferir a ele o devido reconhecimento. Portanto, é da maior importância chamar as coisas pelos seus verdadeiros nomes e atribuir às pessoas seus verdadeiros pesos: Milton Nascimento é uma lenda grande demais para pequenas cerimônias. Um verdadeiro preto velho vivo.
Confira o trailer
Milton Bituca Nascimento | Estreia 20.03.2025 | Dir. Flávia Moraes | Brasil | Documentário 119 min.
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