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Na Teia da Aranha

Os amores e horrores de se fazer cinema

Por Vitória Gomes


Se você já teve a oportunidade de fazer um filme, é comum que seus pensamentos sejam atormentados em todas as fases do desenvolvimento e produção da obra. Ao acompanhar as filmagens ou a edição, sua mente pode não aprovar o que está acontecendo, quase forçando-o a criar novas ideias para melhorar – ou piorar – sua visão original. Essa mentalidade se reflete no diretor fictício Kim, que acredita que seu trabalho mais recente, Cobweb, precisa de uma reformulação na parte final para se tornar uma verdadeira obra-prima. Temos aqui uma ideia do que acontece em Na Teia da Aranha, uma grata surpresa sul-coreana com direção de Kim Jee-woon.


Muito bem interpretado pelo ator Song Kang-ho, conhecido por seu papel no premiado Parasita (2019), o protagonista, um tanto autoritário, está decidido a refazer grande parte do seu filme em apenas dois dias, independentemente dos obstáculos. Mas o restante do elenco também é impressionante, apresentando personagens distintos cujas histórias individuais se encaixam muito bem nos temas e elementos do cinema coreano.


Ambientado em Seul, na década de 1970, Na Teia da Aranha presta homenagem a uma era do cinema sul-coreano em que os diretores precisavam navegar pelas regras repressivas da censura enquanto buscavam se expressar criativamente. Esse período é particularmente interessante para situar uma comédia de bastidores.


O filme acerta em cheio ao representar de forma maníaca um artista perdendo o controle criativo. O espectador testemunha uma guerra subconsciente ao longo da obra: a jornada de um homem em busca de absolvição. É o diretor contra o Estado. Nesse contexto, Na Teia da Aranha é tanto uma carta de amor compassiva ao processo de produção cinematográfica quanto uma crítica ao sistema de estúdios em geral, algo ainda relevante no cenário atual, onde os artistas continuam sendo forçados a cumprir as regras de uma rede centrada no capitalismo. A narrativa, de forma chocante, revela os perigos de suprimir a liberdade de expressão.


O diretor, então, adota uma abordagem mais subtextual ao voltar a câmera para sua própria profissão. O filme satírico levanta questões significativas sobre a essência da produção cinematográfica e, de maneira hilária, faz você refletir se correr riscos em nome da arte é um esforço que vale a pena.


Confira o trailer



 

Na Teia da Aranha | Estreia 12.06.2025 | Dir. Kim Jee-woon | Coreia do Sul | Comédia/Drama | 135 min.

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