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Nostalgia - O peso de um passado

Por Pedro Rossis


A nostalgia é um sentimento inerente a todos nós, e não poderia ser diferente com Felice, personagem do galã italiano Pierfrancesco Favino. Em Nostalgia, longa-metragem de Mario Martone, depois de quatro décadas fora de Nápoles, sua cidade natal, Felice volta e encontra um local totalmente transformado, quase irreconhecível. Sua casa já não é mais a mesma, assim como as ruas, as pessoas, e até sua mãe. Entre tantas memórias revisitadas, há uma amizade dos tempos da juventude. Neste caso, uma relação mal acabada cujos ressentimentos atravessaram esses longos anos. Acompanhamos um homem redescobrindo a cidade onde cresceu, se reapaixonando pelas ruas, pela vista do Mediterrâneo, se reconectando às pessoas e aos costumes locais, vendo a felicidade das pequenas coisas de um lugar que já chamou de lar.

O filme estreou no Festival de Cannes e, merecidamente, foi indicado ao prêmio da Academia Italiana de Cinema, o David di Donatello, em nove categorias, entre elas Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator. Com roteiro assinado pelo próprio diretor, em parceria com Ippolita Di Majo, o longa é inspirado no livro homônimo de Ermanno Rea, autor italiano que já teve outros romances transformados em filmes, entre eles o premiado A Estrela que Não É (2006), dirigido pelo veterano Gianni Amelio. É compreensível que Nostalgia, o livro, tenha sido escrito no mesmo ano da morte de Ermanno, afinal, a história mergulha em uma profunda reflexão afetiva e existencial.


Mario Martone realizou o filme seguindo essa mesma linha e explicou que quis explorar na narrativa algo muito próximo dessa essência. Então, ele optou por deixar a obra aberta aos acontecimentos durante a filmagem. Para conseguir essa naturalidade, o cineasta revelou ter levado a equipe e os atores a desbravarem o bairro de Rione Sanità (onde a ação se passa). Lá eles andaram pelas ruas, se perderam, e só assim começaram a entender o que realmente é aquele espaço. “Com a câmera nos ombros, começamos a caminhar pelas vias, e, encontro após encontro, descobrimos que existe o labirinto e existe a nostalgia, que é o destino de muitos, talvez de todos nós”, disse ele.


O mestre do cinema iraniano Abbas Kiarostami também serviu de inspiração para o filme. Martone observou que “os filmes de Kiarostami são rodados na rua, você vê pessoas reais, e eles ainda têm força para serem contos morais”. E completou admitindo que Nostalgia possui um tanto dessas características, e que esse estilo de filmar não é mais tão comum no cinema atual.


Favino interpreta aqui um personagem que viveu em diversos países árabes, e para isso aprendeu um pouco do idioma para algumas cenas. Entretanto, essa não foi a parte mais desafiadora para o ator, mas sim aprender o dialeto napolitano. Ele, que nasceu em Roma, teve de aprender o dialeto local e esteve ao longo das filmagens sob constante comparação e julgamento, visto que contracenava apenas com napolitanos. “É notório que na Itália há um enorme respeito pela língua napolitana, que há grandes dramaturgos vindos de Nápoles, assim como muitos atores donos de incríveis trajetórias”, observou o ator que é um dos mais requisitados do cinema italiano atualmente. Por tudo isso, Favino não podia decepcionar (e, sim, ele fez seu trabalho impecavelmente, como sempre).


Toda essa imersão no clima e na fascinante cultura local, levou a Itália a escolher Nostalgia como seu representante ao Oscar 2023 de Melhor Filme Internacional. Agora, com a estreia nos cinemas brasileiros, chegou a vez de você embarcar nessa bela viagem e se reconectar com seus sentimentos. Bem-vindo ao labirinto!


Confira o trailer



Nostalgia | Estreia | 05.10.2023 | Dir. Mario Martone | Itália/França | Drama | 117 min.

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