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Queer

Eu só quero que você me queira


Por Lucas Viana


O diretor italiano Luca Guadagnino é mestre em criar lindas cenas de sexo, com intensidade e paixão. Vimos isso em Me Chame Pelo Seu Nome, Rivais e veremos novamente em seu novo filme Queer, que é uma adaptação do livro homônimo do escritor William S. Burroughs.


Se falar sobre sexo e homossexualidade ainda causa polêmica em 2024, imagine escrever um livro com esses temas em 1952. Não à toa, Queer só foi lançado nos anos 1980, já que, três décadas antes, nenhum editor queria bancar o escândalo. Seus outros dois “livros irmãos”, no entanto, foram publicados à época: Junky, em 1953 e Almoço Nu, em 1959. Este último foi adaptado para o cinema por David Cronenberg em 1991, lançado no Brasil com o título Mistérios e Paixões.


O protagonista dessas obras (e também deste filme) é Lee, um senhor de meia-idade que é o alter ego semi-biográfico do próprio Burroughs. Em Queer, o acompanhamos em suas tentativas de lidar com a abstinência de opióides na vida noturna do México. Em uma noite de boemia, ele se apaixona à primeira vista pelo jovem Eugene Allerton. Mas seu pujante desejo logo desperta sentimentos de rejeição e solidão perante as incertezas do enigmático rapaz.


Trata-se de uma narrativa tão bizarra (por isso, queer) quanto o próprio Burroughs, que na vida real fugiu para o México para evitar uma condenação por posse de drogas e armas. Ele se assumiu gay depois de matar acidentalmente a própria esposa com um tiro. E como bom beatnik, foi processado por violar um estatuto de obscenidade quando publicou Almoço Nu.


Para dar vida a esta história alucinante, Guadagnino escolheu parte da equipe que trabalhou com ele em Rivais, como o roteirista Justin Kuritzkes, os músicos Trent Reznor e Atticus Ross, o diretor de fotografia Sayombhu Mukdeeprom e o estilista Jonathan Anderson.


Visualmente, a ambientação remete ao “realismo imaginativo” das misteriosas pinturas de Edward Hopper. Com duras penumbras e cenários pálidos estranhamente iluminados, o filme não é um retrato documental do México, mas um cenário onírico que conduz esta história de torpor e introspecção. A trilha sonora, inclusive, é livre em anacronismos. Uma das canções usadas é uma versão tenra de All Apologies do Nirvana, que não é nada aleatória visto que Kurt Cobain era amigo e admirador de Burroughs.


Talvez quem esteja acostumado a ver Daniel Craig como James Bond estranhe vê-lo em um papel tão erótico. Mas esse não é seu primeiro personagem passional no cinema. Em Love Is The Devil, de 1998, ele interpretou o amante do pintor Francis Bacon e em The Mother, de 2003, deu vida a um carpinteiro envolvido em um triângulo amoroso com uma mulher mais velha e a jovem filha dela. 


Em Queer, ele vive brilhantemente um personagem esférico, com nuances que vão do sedutor apaixonado ao homem velho fragmentado, em busca de uma conexão profunda. Nos deliciamos com a consumação de toques lascivos, obscenos, mas também sofremos com os desejos reprimidos de afeto de Lee. A identificação é garantida, visto que desejos proibidos, amores mal correspondidos e porres depois de noitadas são experiências universais. Portanto, seja você um voyeur, um apaixonado incorrigível ou um amante da sétima arte, não faltam motivos para acompanhar essa história inebriante no cinema.


Confira o trailer




Queer | Estreia 12.12.2024 | Dir. Luca Guadagnino | EUA/Itália | Drama/Romance 135 min.

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