Por Vivi Isoda
“Sweet child in time, you’ll see the line. Line that’s drawn between good and bad”. Softie é um filme agridoce, envolto em sonhos e perspectivas de uma sensível e astuta criança de apenas 10 anos. Apesar da carinha de anjo, Johnny, o menino de cabelos loiros, olhos azuis e sorriso inocente, não vive em um conto de fadas. Sua família é disfuncional. Para começar, o pai é uma figura “inexistente”. A mãe, solteira, é um tanto passional e se desdobra, ao seu modo, entre o trabalho, a casa e os três filhos. O irmão mais velho não ajuda em absolutamente nada, e sobra para Johnny ser o braço direito da mãe e cuidar de tudo e de todos.
Dessa maneira, o garoto se torna excessivamente responsável e amadurece muito rápido, mas também perde o tempo que teria para sonhar e fazer planos para o próprio futuro. Porém, a vida dele começa a ganhar novos rumos quando a família muda de casa e um novo professor chega à escola. A partir de então, Johnny inicia uma jornada de descobertas e você vai poder presenciar, de uma forma bonita e suave – mas com passagens devastadoras – essas novas emoções.
O filme se passa na França, mais precisamente na região leste do subúrbio francês, na cidade de Forbach, que faz fronteira com a Alemanha, onde a mãe do menino trabalha. Esse é o segundo longa como diretor do francês Samuel Theis, que também é ator. O primeiro, Party Girl (2014), ganhou dois prêmios em Cannes: Un Certain Regard e Camera d’Or.
Em entrevista, Samuel revelou que Softie é bastante autobiográfico e que já estava pensando nele quando filmava Party Girl, que envolvia sua família, o lugar de onde ele vinha e do qual queria ir embora. Aqui, ele quis abordar o amadurecimento do personagem que se aproxima da adolescência enfrentando uma gama de questões urgentes, como, por exemplo, a descoberta da sexualidade. E para isso, escolheu compartilhar a visão de uma criança sobre o mundo, em vez da perspectiva de um adulto acerca da infância.
Esse é o debut de Aliocha Reinert, que interpreta Johnny e dá ao filme o tom mais que acertado. Ele consegue transmitir delicadeza e força, sem jamais perder a ingenuidade. Merecidamente, o jovem foi indicado ao prêmio César, o mais importante do cinema francês, na categoria de Melhor Ator Revelação.
Esses são alguns excelentes motivos para você assistir a essa preciosidade no cinema. Softie chega trazendo frescor – sem ser nada óbvio –, enquanto trabalha questões universais e relevantes a todos nós. Para finalizar, deixo aqui a pergunta que o professor Mr. Adamski faz aos alunos e que leva Johnny a começar a sonhar e se descobrir: “Como você se vê daqui a 20 anos?”. Afinal, sonhar é o que faz a gente querer continuar vivendo, certo? Ah, o trecho em inglês que abre o texto é parte da canção que embala a cena final (que, aliás, é belíssima!): Child In Time, clássico da banda inglesa Deep Purple.
Confira o trailer
Softie | Estreia 07.12.2023 | Dir. Samuel Theis | França | Drama | 113 min.
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