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Sonhar com Leões

O peso da última escolha

Por Lucas Viana


Sonhar com Leões chega aos cinemas brasileiros quebrando tabus em meio a risos e goles secos. A produção luso-hispano-brasileira, dirigida e escrita por Paolo Marinou-Blanco, acompanha Gilda (Denise Fraga), que enfrenta uma doença terminal e deseja morrer de forma digna antes que o sofrimento tome conta de si.


Ela recorre à empresa Joy Transition International, que promete ensinar métodos eficientes e indolores para encerrar a vida, já que suas tentativas anteriores não tiveram êxito. Nessa travessia em direção à morte, cruza o caminho de Amadeu (João Nunes Monteiro), um agente funerário taciturno que contrasta com Gilda como opostos que se completam.


O longa aborda temas delicados como eutanásia e suicídio assistido por meio de um humor ácido. A montagem intensa e o roteiro recheado de situações absurdas convidam a refletir sobre a condição das pessoas com doenças terminais, a quem quase sempre se impõe a obrigação de lutar heroicamente uma batalha perdida (ou qualquer outra metáfora igualmente questionável para quem enfrenta um sofrimento inevitável).


O sarcasmo não se limita à hipocrisia social em torno da morte, mas atinge também a indústria que lucra com esse tabu. A suposta empatia das funerárias vira motivo de piada, revelando a ganância de empresas que superfaturam o luto alheio. Já os debates sobre a ética da escolha pela morte em casos críticos — legalizada em apenas 11 países — também podem ser apropriados por corporações que enxergam na escassez de oferta uma chance de expandir seus negócios.


Apesar da relevância dessa discussão, o grande mérito de Marinou-Blanco é manter um tom poético. Mesmo no fim da vida, ainda há espaço para o romance, o desatino e as reflexões sobre a singularidade da existência. O título remete a O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway, quando o personagem sonha com leões, símbolos da vitalidade da juventude.

Boa parte da força do filme vem da entrega de Denise Fraga, que dá corpo e nervo a Gilda. Sua atuação revela franqueza brutal, paixão pela vida e momentos preciosos de suspensão narrativa através da quebra da quarta parede, lembrando a série Fleabag.


Sonhar com Leões é, ao mesmo tempo, denso e vibrante. Marcou presença — e segue em competição — em festivais ao redor do mundo, incluindo o Festival de Gramado.


Confira o trailer



Sonhar com Leões | Estreia 11.09.2025 | Dir. Paolo Marinou-Blanco | Portugal/Brasil/Espanha | Drama/Comédia | 87 min.

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