top of page

Springsteen: Salve-me do Desconhecido

Atualizado: 7 de out.

Um astro em reconstrução

Por Larissa Reis


Imagine um filme que não quer mostrar o astro em shows lotados nem em grandes palcos, mas sim o homem por trás das músicas — suas dúvidas, os fantasmas do passado, a urgência íntima de se expressar de verdade. Esse é o espírito de Springsteen: Salve-me do Desconhecido, dirigido por Scott Cooper, que parte de um momento específico da vida de Bruce Springsteen para nos aproximar do processo criativo e emocional pouco visível.


A trama se concentra nos anos de 1981-82, quando Springsteen, após turnês e sucesso com discos mais grandiosos, decide se isolar para gravar Nebraska — álbum acústico, cru, feito em um gravador de quatro faixas no quarto, longe do glamour. Ele está no limite entre o conforto do reconhecimento público e a necessidade de escavar memórias de infância, traumas familiares e a voz interna que exige honestidade.


Jeremy Allen White assume Springsteen nessa fase de reconstrução pessoal, e o que se ouve dos críticos é que ele convence — não apenas ao imitar ou fazer “cara de” estrela do rock, mas ao mergulhar nas angústias do personagem, nas suas hesitações, nos silêncios. Outros nomes do elenco, como Jeremy Strong (Jon Landau, o produtor) e Stephen Graham (o pai de Springsteen), ajudam a compor esse retrato fragilizado e criativo, mas também pressionado pelo sucesso e pelas expectativas.


O longa abandona a narrativa grandiosa típica dos biopics musicais. Em vez de cenas espetaculares, aposta em uma visão mais direta: os pequenos gestos, o isolamento, a busca por uma voz própria que não estivesse presa às demandas do mercado ou ao mito em torno do artista. É aí que a atuação de Jeremy Allen White se torna central. Ele transmite o peso da responsabilidade de ser Bruce Springsteen, mas também a solidão de quem tenta se reinventar. A transformação é visível em cena: a postura curvada, a contenção nos diálogos, os instantes de fúria contida e vulnerabilidade. É uma performance que sustenta a narrativa e dá densidade ao retrato de um músico tentando não se perder de si mesmo.


Mais do que contar como nasceu um dos álbuns mais cultuados da música americana, Springsteen: Salve-me do Desconhecido mostra como arte e sobrevivência se misturam. O filme deixa claro que, para Bruce, escrever e cantar não era apenas profissão, mas uma forma de continuar em pé. Essa é a força que atravessa a tela — e talvez o motivo pelo qual, décadas depois, suas canções ainda encontram quem precise delas.


Confira o trailer



Springsteen: Salve-me do Desconhecido | Estreia 30.10.2025 | Dir. Scott Cooper | EUA | Biografia | 120 min.

Comentários


bottom of page