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Uma fábula sobre a complexa relação entre pai e filho

Por Roberta Ribas


Esta dramédia transporta você para os anos 60, na província de Lyon, França, onde há um plano para matar o presidente De Gaulle… e o espião é apenas um menino.


Em 1961, a Guerra da Argélia se aproxima do fim. Nesse cenário temos Émile, que vive entre a escola e a casa, ao lado da mãe e do pai. Ele idolatra o pai, que vive contando histórias sobre seu tempo na guerra e sobre suas inúmeras profissões e ideias: um dia é paraquedista, no outro é faixa preta de judô, espião, e até mesmo fundador e tenor dos Les Compagnons de la Chanson. O menino está disposto a qualquer coisa para fazer o pai feliz.

André, o pai, então "transforma" o menino em um soldado da resistência, um instrumento para cumprir sua grandiosa missão de salvar a Argélia, confiando a ele múltiplas missões para lutar contra a independência, até o projeto de assassinato do General de Gaulle.


O conflito é visto pelos olhos da criança, enquanto tenta entender o mundo ao seu redor por meio das histórias de seu pai, que conta a ele sobre a misteriosa “Organização” (o grupo terrorista conhecido como OAS - Organisation Armée Secrète), e começa a enviá-lo em missões para promover a causa. A princípio, Émile não entende o que está fazendo, mas à medida que começa a acompanhar as notícias – e até se ver sujeito a uma delas –, seu conhecimento da situação aumenta. O problema é que isso tudo é visto pelos olhos de uma criança, e alguém que fará qualquer coisa para tornar seu pai melhor. Para Émile, orgulhoso e assustado por ter sido escolhido, trata-se de ajudar seu pai, na vã esperança de que ele possa, de alguma forma, restaurá-lo à pessoa que era antes.


Benoit Poelvoorde brilha na escuridão, como o pai, e traz a intensidade e a complexidade das emoções necessárias para o papel. Entre momentos de humor, charme e histórias fantásticas, também vemos explosões violentas e crises de depressão. Não é a primeira vez que Poelvoorde é tão bom em um personagem sombrio. Esse papel foi feito para ele.

Completam o elenco Jules Lefebvre (uma revelação como Émile), com uma forte e impressionante atuação em um papel desafiador, e Audrey Dana como Denise, mãe de Émile e esposa de André. Ela traz uma grande profundidade emocional em sua interpretação, colocando-se como espectadora de uma estranha relação entre pai e filho.

O diretor e roteirista Jean-Pierre Améris faz um excelente trabalho ao adaptar o livro de Sorj Chalandon, Profession du Père, junto a sua corroteirista Murielle Magellan. Eles abordam o impacto duradouro da Guerra Franco-Argelina e suas consequências, mas também o impacto na saúde mental e no trauma em uma família.


As Histórias de Meu Pai ou Profession du Père (título original) é intenso e complexo. Analisa os impactos de um pai mitômano e de uma mãe complacente, e como os relacionamentos com nossos pais nos moldam. Uma sessão de terapia sobre um tema delicado e sobre amor familiar, com desdobramento final. Imperdível!


As Histórias de Meu Pai | Estreia 09.02.2023 | Dir. Jean-Pierre Améris | França | Drama | 105 min.

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