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A História da Minha Mulher | Um belíssimo filme sobre amor, ciúme e filosofia

Por Roberta Ribas


O pragmático e cartesiano Jacob Störr, um capitão de navio, faz uma aposta com um amigo: casará com a primeira mulher que entrar no café onde eles estão. É então que chega Lizzy, vivida pela charmosíssima Léa Seydoux. Eles se casam rapidamente, mas a ausência prolongada do capitão devido ao seu ofício faz com que cresça nele a suspeita de infidelidade da mulher, e isso ameaça condená-lo à loucura.


Do eterno drama amoroso entre homens e mulheres, em A História da Minha Mulher acompanhamos o suspense rasgado, a melancolia implacável, os segredos e o mais terrível dos tormentos, o ciúme. Adaptado do livro homônimo A História da Minha Mulher: As Reminiscências do Capitão Storr, do poeta húngaro Milán Füst, publicado em 1946, o roteiro foi escrito pela própria diretora, também húngara, Ildikó Enyedi. Assim como a obra original, o filme reúne todos os elementos necessários a um grandioso, porém trágico, romance: amor, perda e loucura. O romance foi um dos favoritos da realizadora durante sua adolescência, que desde 1989 tentava nos contar essa história.


Nascida em Budapeste, na Hungria, em 1955, Ildikó Enyedi é diretora, argumentista, e também artista visual e conceitual. Seu segundo longa-metragem, O Meu Século XX (1989), foi considerado um dos doze melhores filmes húngaros de todos os tempos. Da sua obra destacam-se ainda Simon Magus (1999) e Corpo e Alma (2017), ambos com passagens pelos Festivais de Berlim e Locarno, e o último foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

A História da Minha Mulher, que concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2021, fala sobre a impermanência dos relacionamentos e o viver no presente. Seguimos o curso natural de um romance, o começo de se conhecer e se acostumar às águas calmas do amor e, depois, com a crescente ansiedade, o ruminar do mar revolto e a tempestade. E a câmera sempre no nosso protagonista e seus impulsos, acompanhando um homem peculiar – que do nada se casa e do nada vai ao mar trabalhar –, deixando sua esposa em sua terra para levar consigo somente dúvidas. O filme começa com ele e continuamos prisioneiros do seu ponto de vista durante toda a projeção.


O elenco está incrível, todos perfeitamente escolhidos para viver seus densos personagens. O másculo, parrudo e forte holandês Gijs Naber vive o homenzarrão que cai de amores pela belíssima e frívola Léa Seydoux. Louis Garrel, charmosíssimo, completa o triângulo amoroso. E ainda temos Sergio Rubini, como o amigo charlatão do capitão. A fotografia é maravilhosa, um espetáculo à parte. Além da impecável reconstituição de época, com lindos cenários e figurinos. Um deslumbre.


Em certo momento, pensei estar assistindo a mesma história do célebre livro Dom Casmurro, de Machado de Assis, talvez pelos dois romances tratarem sobre o tema universal da paixão enlouquecida de um homem por uma mulher e toda a desconfiança e insegurança geradas por esse sentimento tão humano. Apesar da frivolidade do início, o amor entre Lizzy e Jacob, se revelará profundo e doloroso, com ele se transformando em um homem inseguro e obcecado com a possibilidade de perdê-la. Paira sobre cada cena de A História da Minha Mulher a aura da dúvida, a instabilidade dos sentimentos e a sombra constante da desconfiança.


Um filme que começa no mar e termina no mar, uma ótima história com um roteiro redondo e circular, que toca o coração de todos que conheceram o amor, o conflito e a perda. Deixo aqui a frase final que resume bem o que o filme diz: "É inútil esperar que a vida se acomode a você. Você deve acomodar a vida. Caso contrário, ela irá puni-lo".


Confira o trailer



A História da Minha Mulher | Estreia 15.06.2023 | Dir.: Ildikó Enyedi | Hungria/Alemanha/França/Itália | Romance/Drama | 169 min

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