Um filme do Brasil para ganhar o mundo
Por Pedro de Rosis
Super elogiado no Festival de Veneza e amado por antecipação pelos cinéfilos brasileiros, o nacional Ainda Estou Aqui já chega como o queridinho do ano antes mesmo de ser lançado. Realizado por Walter Salles, que volta à cadeira de diretor após 12 anos afastado do cinema de ficção, temos aqui um dos seus melhores trabalhos.
Com roteiro baseado no livro de mesmo nome, escrito por Marcelo Rubens Paiva, Ainda Estou Aqui recupera a tragédia que se abateu sobre a família do escritor no auge da repressão. No verão de 1971, no Rio de Janeiro, o ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello) foi levado por homens à paisana para prestar depoimento em um quartel e nunca mais voltou. Sua mulher, Eunice (Fernanda Torres), até então uma dona de casa, ao se ver sozinha com cinco filhos travou uma revolução em busca da verdade. Walter Salles é sensível ao não mostrar os horrores que aconteceram na prisão, ao mesmo tempo que mantém os espectadores sob a tensão que assola a família, ao se desesperar com a falta de respostas e menosprezo do poder público.
A atuação de Fernanda Torres é imensa, nos hipnotiza do começo ao fim, preenchendo esse buraco que, de um dia para o outro, se abre no lar da família. Ficamos fascinados com a força que interpreta num primeiro momento a mãe que nunca chora na frente dos filhos e, depois, sua luta por justiça. A atriz foi presenteada com esse papel, a história de Eunice daria um filme! Após voltar à faculdade com mais de 40 anos e se formar em direito, ela se torna uma das ativistas de Direitos Humanos mais respeitadas do país.
Fernanda, em mais uma parceria com o diretor, foi uma forte concorrente à Copa Volpi de melhor atriz em Veneza, e vem sendo apontada como um nome de peso para o Oscar 2025, o que a levaria a repetir os passos da mãe, Fernanda Montenegro, que em 1999 recebeu indicação por Central do Brasil, também com direção de Walter Salles. Ela, inclusive, está presente no elenco de Ainda Estou Aqui, interpretando Eunice mais velha. Especulações à parte, este já é o escolhido oficial do Brasil para uma vaga entre os indicados ao próximo Oscar de Melhor Filme Internacional e vem fazendo uma grande campanha para conquistar a melhor visibilidade possível.
A lista dos pré-indicados sai no dia 17 de novembro, fiquemos na torcida!
Mas a obra tem potencial para competir em diversas outras categorias na maior premiação do cinema mundial, como, por exemplo, na de roteiro adaptado. Os autores Murilo Hauser e Heitor Lorega foram recém-premiados em Veneza e este seu trabalho é tido pela crítica internacional como um dos melhores do ano. Murilo foi também um dos corroteiristas de A Vida Invisível, de Karim Ainouz.
E tanto otimismo, definitivamente, não é à toa. Aqueles que já tiveram a oportunidade de assistir ao filme ficaram impactados com as atuações, a qualidade técnica e as emoções que sua história emana. Então, vamos todos ao cinema a partir de 7 de novembro prestigiar esta importante estreia.
Confira o trailer
Ainda Estou Aqui | Estreia 21.11.2024 | Dir. Walter Salles | Brasil | Drama | 135 min.
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