As Aventuras de Uma Francesa na Coreia
- Léo Mendes
- 7 de abr.
- 3 min de leitura
O terceiro encontro de Huppert com Sang-soo
Por Léo Mendes
A francesa Isabelle Huppert é uma atriz que já rendeu boas parcerias com grandes diretores, o principal deles foi Claude Chabrol, com quem trabalhou em sete filmes. Ele, inclusive, certa vez se referiu a ela como “a maior atriz do mundo”. Agora, parece que rolou um novo match entre Huppert e outro diretor, também superprodutivo, o sul-coreano Hang Sangsoo. Juntos, eles já fizeram três filmes, e todos com distribuição no Brasil pela Pandora Filmes: A Visitante Francesa (2012), A Câmera de Claire (2017) e este aqui, As Aventuras de Uma Francesa na Coreia, que ganhou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim.
Para muitos, a repetição aqui não diz respeito apenas a parceria atriz/diretor. Há quem diga que, nos últimos anos, Sang-soo vem fazendo o mesmo filme. Mas isso é uma visão equivocada. Na forma, seu cinema possui uma cara e até alguns vícios estéticos, como o recorrente uso de zoom. No entanto, as mensagens que suas obras transmitem são muito diversas e surpreendentes, justamente pela inegável sofisticação disfarçada de simplicidade.
As Aventuras de Uma Francesa na Coreia é, até agora, o filme mais minimalista dele.
Para começar, a protagonista Iris, vivida por Huppert, não possui história. Como assim, uma protagonista sem história? Esta é uma grande ousadia de Sang-soo, convidar uma estrela com a grandeza de Isabelle Huppert para dar vida a uma mulher de quem se sabe apenas o nome e, claro, que ela é francesa. Não há nenhuma pista do que ela foi fazer na Coreia do Sul, se ela chegou ali vinda diretamente da França, e nem para onde irá ao fim de sua estada no país asiático. Para se manter, Iris dá aulas de francês. Usando um método diferenciado, ela induz suas alunas a exteriorizarem emoções e sentimentos íntimos, anotados por ela em um bloquinho. A partir daí, as alunas farão uma imersão no idioma com base na análise feita sobre elas. Ou seja, são aulas estritamente personalizadas e, ainda, com viés analítico. Sim, mais do que ensinar francês, ela tira daquelas moças impressões aparentemente banais, mas que podem significar poderosos insights. Seria Iris uma terapeuta fazendo bico como professora? Isso seria apenas uma hipótese, como já foi dito, realmente não há como se comprovar nada a respeito dela.
Iris é uma simpática forasteira que adora beber makgeolli, um vinho de arroz típico da Coreia, com aparência leitosa e inofensiva, mas capaz de chapar qualquer um já na segunda dose.
Enquanto visita uma mulher que a quer como sua professora, em vez de beber o vinho de uvas sugerido pela anfitriã, Iris propõe uma rodada de makgeolli e logo começa a corresponder às investidas nada sutis do marido da nova aluna.
Quem viu A Visitante Francesa vai reconhecer nele o mesmo cafajeste casado que deu em cima da Huppert, que, por sinal, já se mostrava pouco resistente à paquera. Nos dois filmes ele é interpretado por Kwon Hae-hyo, ator que é alter ego de Sang-soo em vários dos seus filmes.
Ah, Iris encontra-se hospedada na casa de um rapaz a quem ela paga com o dinheiro que ganha com as aulas. Este é o ponto que gera o maior conflito do filme: a mãe do moço vai visitá-lo de surpresa e é assim que ela descobre que o seu garoto, um estudante até então exemplar, está vivendo com uma mulher, uma desconhecida, com idade para ser... mãe dele!
Embora ele diga se tratar apenas de uma amiga, isso não é suficiente para evitar uma crise histérica naquela mãe que, louca de ciúmes, faz questionamentos pertinentes. E não se pode tirar a razão dela nesse ponto. A pergunta principal é “você sabe quem é esta mulher, de onde veio o qual é o passado dela?”. O garoto não tem resposta, claro. Nem ele, nem Hong Sang-soo, nem você e nem ninguém. E isso faz de As Aventuras de Uma Francesa na Coreia um dos filmes mais originais e intrigantes dos últimos tempos.
Iris, quando não está dando aulas, pode ser vista interagindo com a natureza, às vezes repousando sobre uma grande rocha, feito uma camaleoa. A imagem da camaleoa, aliás, representa muito bem a atriz em si. Ela, que segue sendo uma das maiores atrizes do mundo e tem em sua galeria de personagens tipos tão ecléticos e ricos em nuances, desta vez se propôs a dar corpo, alma e voz a uma mulher incógnita, criada para ser desvendada por você. Então, depois da sessão, pegue seu bloquinho e caneta e solte sua imaginação.
Confira o trailer
As Aventuras de Uma Francesa na Coreia | Estreia 10.04.2025 | Dir. Hong Sang-Soo | Coreia do Sul | Drama 90 min.
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