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Encontro com o Ditador

Nossas vidas por um furo

Por Rebecca Rocatto


Eker em seu livro Quando a Guerra Acabou: Camboja e a Revolução do Khmer Vermelho. Classificado como drama, com elementos de suspense e disfarçado de documentário, o longa- metragem de Rithy Panh – que já acumula obras com uma forte perspectiva política – nos conduz pelas instalações públicas e comunidades do país asiático.


Paul Thomás (Cyril Guei), Alain Cariou (Grégoire Colin) e Lise Delbo (Irène Jacob) acompanham a jornada do Camboja, que ainda enfrenta os horrores do Kampuchea Democrático, um regime ditatorial conhecido como Khmer Vermelho, que durou de 1975 a 1979 sob a liderança de Pol Pot. À medida que somos apresentados à população cambojana, nos deparamos com dois lados de uma mesma moeda: um autocrata que governa para um único povo e o Partido Revolucionário, que sofre as consequências da opressão autoritária.


Paul Thomás, o fotojornalista dessa expedição, captura momentos sombrios do Camboja em cenas que ficaram gravadas não apenas nos rolos de filme, mas também em sua memória. Questionador, mesmo quando em silêncio, ele se esquiva das lacunas do tradutor e da comitiva fiel ao Kampuchea, enquanto percebe que nem tudo é o que parece ser. Cercado pelas paisagens áridas, ele encontra consolo na busca pela verdade oculta nos cantos esquecidos do país; vilarejos onde a vida passa despercebida e a resistência é sinônimo de vida ou morte.


Enquanto isso, temos Alain Ca- riou e Lise Delbo em um dilema. O encontro com o ditador significa uma chave de ouro nas mãos de Alain. No entanto, para Lise, quanto mais eles se aproximam de uma resposta, mais distante ficam da solução. Por outro lado, ela percebe que o entusiasmo de Paul pode prejudicá-lo, mas não consegue impor limites.


Rithy Panh utiliza planos estratégicos de enquadramento para narrar a história, especialmente quando o silêncio domina a cena. Sobressaem- se retratos de Pol Pot, quase como se fosse uma “divindade”, colocando-o, mesmo ausente, em confronto com os protagonistas. O cinismo é um artifício nas mãos de Lise, que se mantém cética diante dos agentes do governo para não levantar suspeitas e, ao mesmo tempo, tenta compreender as divergências nas falas de cada um. O tom neutro e sombrio nos faz acreditar que algo ainda mais terrível pode ocorrer a qualquer momento, e o conflito nunca se apresenta exatamente como passivo-agressivo. E é daí que vem o clima de tensão que faz do filme um suspense dos bons, sem jamais recorrer a nenhum clichê do gênero. Encontro com o Ditador teve sua estreia mundial no mais recente Festival de Cannes e foi escolhido para representar o Camboja no Oscar 2025 de Melhor Filme Internacional. Com estreia nos cinemas marcada para 2 de janeiro, essa missão arriscada promete altas doses de emoção em seu início do ano novo.


Confira o trailer




Encontro com o Ditador | Estreia 02.01.2025 | Dir. Rithy Panh | França/Camboja | Suspense/ Drama | 112 min.

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