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Homem com H

A história de um corpo livre e feroz

Larissa Reis


Homem com H chega aos cinemas no dia 1º de maio como uma celebração da potência artística e da trajetória singular de Ney Matogrosso. A cinebiografia, dirigida por Esmir Filho, mergulha com sensibilidade em diferentes fases da vida do cantor — da infância na cidade de Bela Vista (MS) à explosão como figura expoente da música brasileira, passando pelos embates familiares, os tempos de ditadura e as relações que marcaram sua vida pessoal e profissional.


Interpretar Ney Matogrosso nunca seria tarefa simples — e Jesuíta Barbosa parece ter compreendido isso profundamente. Amparado por um trabalho de caracterização impecável, ele não se limita a imitar trejeitos: capta a estranheza natural de Ney, seu corpo em constante tensão, seu olhar cortante e aquele jeito de bicho arredio, pronto para atacar se ameaçado. Um equilíbrio raro entre exuberância e mistério.


Evitar a caricatura ao retratar uma figura tão marcante é uma conquista do filme, que aposta em uma construção cuidadosa. A presença de Ney no set, em momentos-chave, só reforça esse compromisso com a autenticidade — como na cena em que o personagem Marco de Maria, vivido por Bruno Montaleone, questiona se o cantor permaneceria ao seu lado após o diagnóstico de HIV. Foi uma sequência de forte carga emocional, que arrancou lágrimas do próprio Ney, visivelmente tocado ao revisitar memórias tão pessoais.


A produção também surpreende com detalhes e participações especiais, como a cantora Céu no papel da vedete Elvira Pagã, e Sarah Oliveira interpretando uma repórter amiga do artista — um momento simbólico, considerando a relação real entre os dois e o fato de Sarah ser irmã do diretor.


Além da beleza do trabalho de atuação, o filme também reafirma a importância de Ney como símbolo de liberdade e transgressão. Entre os conflitos com o pai, as críticas recebidas até mesmo dentro do meio artístico e os momentos de solidão, há uma trajetória de resistência que atravessa décadas. O filme aborda desde os tempos com o grupo Secos & Molhados até a carreira solo, incluindo parcerias como a de Cazuza, com quem viveu uma relação intensa — e breve —, dita por Ney como o grande amor da sua vida.


O longa, que foi escolhido para encerrar o 27º Festival de Cinema Brasileiro de Paris, no dia 6 de maio, já chega carregado de expectativa. Produzido com a supervisão direta do próprio Ney, o longa equilibra o intimismo e a grandiosidade, revelando não só o artista aclamado nos palcos, mas o homem que construiu sua liberdade enfrentando o peso das convenções.


No fim, fica clara a proposta do filme: não apenas contar a história de um ícone, mas apresentar — com respeito e intensidade — o retrato de alguém que nunca se encaixou em moldes. Ney continua desafiador, livre, indomável. E o cinema, agora, tem a chance de eternizar isso.


Confira o trailer




Homem com H | Estreia 01.05.2025 | Dir. Esmir Filho | Brasil | Cinebiografia/Drama 129 min.

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