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Moneyboys - Amor que não se compra

Por Leo Mendes


Apresentado na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes, Moneyboys é o primeiro longa-metragem do chinês CB Yi, ex-aluno do aclamado diretor Michael Haneke, de quem pode ter aprendido muito sobre técnica cinematográfica, mas o estilo observado aqui dá para ver que é todo dele.


Na história, ambientada em Taiwan, Fei deixa a vida rural para se aventurar como garoto de programa na cidade grande. Lá, ele encontra o apoio de Xiolai, outro rapaz já experiente no ramo. Um misto de afinidade e atração faz com que, em pouquíssimo tempo, eles começm um relacionamento. Xiolai é romântico e passional, enquanto Fei se mostra mais racional e pragmático. Na primeira cena de intimidade com o namorado, ele interrompe, antes do “final feliz”, preferindo se guardar para o próximo cliente. 


Certa noite, num bar, com iluminação e clima dos filmes de Wong Kar-wai, o rapaz está fazendo um “esquenta” com um tipo fanfarrão, com quem está prestes a ir para a cama. Xiolai aparece, chama o amado em particular e o alerta para não sair com aquele cara, pois ele aparenta ter instintos violentos. Fei não dá ouvidos, confunde cuidado com ciúme, vai e se dá mal. O outro vai atrás do agressor em busca de vingança e o embate acaba em tragédia. Xiolai sobrevive, mas desaparece da vida de Fei e do filme. Mais tarde, saberemos notícias devastadoras de como ele está vivendo.


Agora solteiro, Fei vai visitar a casa dos pais, no interior. A mãe faleceu nesse tempo em que ele esteve ausente, mas a irmã o recebe calorosamente. Fica claro, desde o início, que o moço os ajuda financeiramente, à distância, mesmo não sendo aceito ali por causa de sua homossexualidade jamais assumida. Ser gay e viver da prostituição, isso é crime imperdoável. Mas na hora de aceitar um pix do money boy, a hipocrisia sabe fazer vista grossa. Vale lembrar que, na China, a homossexualidade só foi descriminalizada em 1997, mas isso não significa que ela já seja amplamente aceita, socialmente.


Ainda na paisagem campestre, durante um jantar no qual a única mulher da casa aparece apenas para servir à mesa só de homens, Fei é questionado se tem namorada, quando vai casar e ter filhos, entre outras cobranças cheias de insinuações maliciosas, como se ele representasse um perigo para a reputação deles. Cena lindamente filmada num único take, o que aumenta ainda mais o clima de tensão que a situação desencadeia. 


Nesse período, o jovem reencontra o bondoso Long, um amigo de infância, talvez um antigo amor platônico. Long também quer ir para a metrópole, seguir os passos de Fei, em todos os sentidos. Vale shippar, mas Fei o rejeita com veemência. Provavelmente, não suporta enxergar a si mesmo na figura daquele garoto que tanto o venera. Uma repetição daquilo que ele viveu com o azarado Xiolai seria traumático demais. Seu coração está fechado e carregado de culpa pelo que aconteceu com o ex. Um dia, porém, eles vão ter que ficar cara a cara para um acerto de contas, apesar das dores dilacerantes que o tempo – e muito menos o dinheiro – jamais poderá curar. Quem sabe assim, novos caminhos se abrirão. Ou não.


É nesse tom de elegante melodrama que CB Yi nos apresenta seu talento, com belíssima direção de fotografia do francês Jean-Louis Vialard (o mesmo de Mal dos Trópicos, de Apichatpong Weerasethakul), mais a cenografia, paleta de cores e iluminação de cair o queixo. Aí está um diretor que todo cinéfilo precisa conhecer!


Confira o trailer



Moneyboys | Estreia 08.02.2024 | Dir. CB Yi | Taiwan/Áustria/França/Bélgica | Drama | 120 min

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