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O Brilho do Diamante Secreto

O retorno triunfal de um espião imbatível

Por Murilo Brum


John D., interpretado por Fábio Testi, está na casa dos setenta e passa os dias na Riviera Francesa, hospedado num hotel elegante à beira-mar, fumando charutos e esvaziando martinis. Sentado tranquilamente, ele observa uma mulher nua se bronzeando. O sol reflete em um diamante cravado em seu seio e, num instante, o brilho desencadeia um flash de lembranças. De volta à juventude, John, agora vivido por Yannick Renier, se vê outra vez no centro de missões secretas, perseguições glamorosas, mulheres fatais e vilões mascarados.


Assim começa O Brilho do Diamante Secreto, filme da dupla belga Hélène Cattet e Bruno Forzani, exibido na competição da Berlinale 2025 e que agora estreia nos cinemas brasileiros. Conhecidos por criar experiências visuais sensoriais, os dois diretores descrevem sua nova obra como o encontro improvável entre James Bond e Morte em Veneza, mas com humor no lugar da crise existencial do filme de Visconti.


Se o universo dos agentes secretos costuma ser associado ao olhar americano, O Brilho do Diamante Secreto bebe de outra fonte: o chamado eurospy, vertente europeia do gênero que surgiu na Itália dos anos 60 com produções coloridas, sensuais, divertidas e de baixo orçamento, inspiradas no sucesso de 007.


Ao lado disso, o filme mergulha também nos quadrinhos italianos adultos da época, como Diabolik e Kriminal, onde os vilões eram protagonistas carismáticos, cercados por luxo, mistério e sem uma noção clara de bem versus mal.


A história de O Brilho do Diamante Secreto não é daquelas com começo, meio e fim. O filme parece sair direto da cabeça de John, e o que é real ou imaginação se mistura o tempo todo. Os diretores citam o cinema de Satoshi Kon como inspiração, especialmente em filmes como Perfect Blue e Millennium Actress, nos quais o espectador também se perde dentro da mente dos personagens.


Ou seja, aqui não há respostas fáceis nem explicações diretas. Mais do que contar uma história, o filme quer provocar uma experiência, e tudo na direção contribui para isso. A montagem é feita com cortes secos, repetições e sobreposições. A fotografia é bem saturada, com bastante close-ups e movimento. Já a trilha sonora, com faixas de thrillers italianos dos anos 60 e 70, incluindo Stelvio Cipriani e Ennio Morricone, reforça esse clima de sensualidade, tensão e mistério.


Tudo isso com muita textura, cor e excesso. No cinema da dupla Cattet e Forzani, a forma é conteúdo e a estética não acompanha a narrativa: ela é a própria narrativa, e cada plano parece ser pensado para provocar um misto de sensações. Então, O Brilho do Diamante Secreto não é feito para ser entendido, mas sentido. É um mergulho profundo em desejos, memórias e delírios, conduzido por uma estética alucinante. Com ritmo próprio e imagens marcantes, o filme convida o espectador a entrar nessa viagem sensorial e se deixar levar. E quem estiver com a mente aberta para isso, não vai se arrepender!


Confira o trailer


O Brilho do Diamante Secreto | Estreia 17.07.2025 | Dir. Hélène Cattet e Bruno Forzani | França/Camboja | Ação/Comédia | 87 min.

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