Por Larissa Reis
Escrito e dirigido pelo norueguês Kristofer Borgli e produzido por Ari Aster (Midsommar, Beau tem Medo e Hereditário), O Homem dos Sonhos tem como principal personagem Paul Matthews, interpretado por Nicolas Cage, um homem chato, marido, pai de duas adolescentes, professor de biologia evolutiva em uma pequena faculdade, e que mora em uma bela casa no subúrbio. Com roupas caretas de um típico pai americano de meia-idade, Paul planeja escrever um livro sobre a inteligência das formigas, há anos. Juntando todas essas informações, podemos perceber que Paul não tem nada de diferente ou de especial. Certo? Errado! Em algum momento inesperado, ele começa a aparecer nos sonhos das pessoas como uma figura flutuante, que nada faz diante de uma grande calamidade.
A princípio, ele descobre que aparece nos sonhos de pessoas conhecidas, como sua filha, sua ex-namorada e, até mesmo, seus alunos. Mas não apenas de pessoas que ele conhece. Há também estranhos, milhares deles, todos com esse elemento de sonho bizarro e compartilhado. E é nesse momento que Paul se torna famoso, um fenômeno. A popularidade é tanta, que ele é convidado para dar entrevistas e começa a ser agenciado por uma empresa de marketing.
Mas, é claro, como toda febre de internet, uma hora os seus cinco minutos de fama vão acabar. E, infelizmente, isso acontece com Paul, de forma significativa e até mesmo frustrante (para o espectador). Considerando que Paul não sabe o motivo de estar “aparecendo” para as pessoas – inicialmente de uma forma pacata –, a fama que ele alcança começa a afetar os sonhos dos outros, de forma prazerosa, pode-se dizer. Mas já em seu terceiro ato, quando a vida do protagonista começa a ficar conturbada, o que era bom começa a virar pesadelo.
A abordagem começa forte, com uma premissa inteligente que desafia o público e proporciona muitas risadas alimentadas pelo absurdo, e também pela vergonha alheia. Sem falar no fato de ter um ator tão versátil como Nicolas Cage – que por sinal está brilhante –, cuja falta de vaidade em um papel triste favorece a venda da jornada constrangedora do personagem. Isso está na fisicalidade da performance, na forma como seus olhos se abaixam em resignação, na leve postura curvada, e até em seu andar.
O Homem dos Sonhos é um exame cômico da fama instantânea e da cultura do cancelamento, uma espécie de parábola extrema sobre esse tema. Cultura essa, à qual a obra faz referência especificamente, é um debate carregado e difícil de não ser enxergado através dos nossos próprios olhos. Como, por exemplo, o sentimento de impotência da pessoa exposta e a razão de ninguém fazer nada para ajudá-la. Além de mostrar o quanto a internet pode ser perigosa, a ponto de virar a sua vida de cabeça pra baixo, literalmente.
Confira o trailer
O Homem dos Sonhos | Estreia 28.03.2024 | Comédia | 100 min | EUA | Dir. Kristoffer Borgli
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