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Pobres Criaturas - A desconstrução de uma sociedade de costumes

Por Larissa Reis


Familiarmente estranho, Pobres Criaturas se resume basicamente a uma pessoa que tem a oportunidade de conhecer o mundo pela primeira vez, ou seria pela segunda? Indicado ao Oscar 2024 em 11 categorias, entre elas Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz (Emma Stone), Pobres Criaturas, com suas cores não naturais, as lentes fish eyes, as referências ao steampunk e ao gótico vitoriano, até poderia ser apenas sobre uma descoberta, mas é muito mais do que isso.


O longa é protagonizado por Emma Stone, no melhor desempenho de sua carreira, como Bella Baxter, um experimento do exótico Dr. Godwin Baxter, vivido por Willem Dafoe, que foi trazida de volta à vida pelo cientista. Ao despertar, Bella começa a fazer descobertas sobre o mundo ao seu redor e, literalmente, com a mentalidade de uma criança, ela aprende a andar, falar e a conviver com os outros experimentos de Godwin.


Pouco tempo depois, Bella conhece um advogado trambiqueiro chamado Duncan Wedderburn, interpretado por Mark Ruffalo. Eles logo se apaixonam, então Bella tem a oportunidade de sair da casa em que foi criada e conhecer o mundo. E ela faz, de fato, uma viagem ao redor do mundo. Conforme o tempo passa, Bella tem uma visão de como o mundo realmente funciona, e também descobre como ela é e quem gostaria de ser.


Na filmografia do grego Yorgos Lanthimos, diretor do filme, Pobres Criaturas está em uma escala diferente de qualquer outra que ele já tenha tentado antes. No entanto, Yorgos mantém uma porção dos temas recorrentes em sua carreira. Os indicados ao Oscar Dente Canino (2009) e O Lagosta (2015) são dois exemplos disso. Narrativamente falando, Pobres Criaturas nos leva a lugares fascinantes, à medida que se torna estranhamente caloroso e otimista. 


Com uma fotografia belíssima, Yorgos consegue fazer o mundo à sua imagem, numa representação do início de 1900 com navios voadores e cores irreais. E essa visão que Bella nos proporciona se dá através dos expressivos olhos verdes de Emma Stone, o que torna tudo ainda mais especial. 


E falando em Emma Stone, toda a magia e excentricidade do filme acontece graças a ela. Ao observarmos a personagem crescer, deixando de ter uma mentalidade infantil para se tornar um ser humano totalmente desenvolvido, com vontades, desejos, sonhos – e até mesmo fã de sexo –, nos é apresentada uma performance diferente de tudo que já vimos dela. 


Conforme Bella se apresenta como sedutora, fascinante e desconcertante, ela não consegue evitar a atenção das pessoas inteiramente voltada para ela. É nesse momento que a vemos se tornando uma mulher com todas as lutas e frustrações que isso inclui. 


Aproveito o espaço também para falar das atuações de Willem Dafoe e Mark Ruffalo. Dafoe, como Dr. Godwin Baxter, apresenta um personagem incomum, mas compassivo, e um homem que foi o experimento de seu próprio pai. O roteiro poderia facilmente tê-lo retratado como um cientista maluco (o que ele até é, em alguns aspectos), mas o que mais fica marcado é a figura do pseudo-pai amoroso que Dr. Baxter se tornou para Bella.


Já Ruffalo, no papel de Duncan Wedderburn, é um adulto infantil e até mesmo um canalha malvado que só é motivado por seus caprichos. Uma espécie de anti-herói com um bigode estiloso, cujas linhas de irritação e ansiedade quase nos fazem gostar menos de sua presença, mas, em contradição, querer mais tempo de tela com ele.


Pobres Criaturas é um deleite visionário, divertido e ambicioso que fará o público sentir como se estivesse vendo o mundo pela primeira vez. Assim como Bella. Um filme que não só apresenta muitas características feministas, mas também nos leva a questionar sobre a liberdade. Se somos realmente livres para falar tudo que queremos e pensamos em uma sociedade de costumes, onde o diferente é visto como errado e até mesmo absurdo. 


Confira o trailer



Pobres Criaturas | Estreia 01.02.2024 | Dir. Yorgos Lanthimos | Irlanda, Reino Unido, Estados Unidos | Comédia/Fantasia | 141 minutos

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