Por Juliana Brito
A polonesa Agnieszka Holland é, sem sombra de dúvidas, uma das cineastas mais potentes da atualidade. Em seus filmes é normal encontrarmos questões pertinentes, sejam específicas de uma região ou comuns para todos nós. Em Zona de Exclusão ela escolheu um dos temas mais comentados na Europa hoje em dia: a imigração. Mesmo sendo assunto de diversas produções locais, ela conseguiu entregar algo original, que vai pregar você na cadeira do cinema, salvo algumas contorções.
Na história, acompanhamos ao menos três pontos de vista diferentes: uma família síria e uma professora afegã que tentam chegar da Bielorrússia às linhas de acesso da União Europeia pela Polônia, um jovem guarda da fronteira polonesa que espera um bebê, e uma psicóloga polonesa que se mudou recentemente e vive em uma casa próxima ao local da travessia.
Nem é necessário dizer que o primeiro grupo enfrentará dificuldades, mas o que Agnieszka expõe é de tamanha desumanidade que fará seu estômago retorcer. Os guardas dos dois territórios seguem as diretrizes políticas e de seus superiores, e ficam como numa partida de pingue-pongue jogando refugiados de um lado para o outro da cerca. O objetivo do jogo nefasto é não deixar ninguém morrer no seu lado da fronteira. Aquelas pessoas, mesmo com dinheiro, são submetidas a humilhações e não encontram saída nem quando conseguem chegar ao hospital mais próximo, mesmo já tendo cruzado a linha. O alívio, se assim podese dizer, vem da experiência de Julia, a psicóloga, que, diante do que vê, decide se unir a um grupo de voluntários para tentar ajudar os desamparados a acamparem na floresta, enquanto conseguem autorização para seguirem em frente.
Não, querido leitor, eu não estou tentando convencê-lo a não assistir ao filme. Mesmo com suas cenas difíceis, ele é um dos melhores que vi nos últimos meses, digno de Oscar, e tenho certeza que só não entrou na seleção de Melhor Filme Internacional deste ano por ser uma fortíssima crítica ao governo polonês, o mesmo que indica o título representante de seu país para tentar a vaga na categoria. Mas, claro que, como merecido, ele não passou despercebido em outras competições: ao todo foram 17 vitórias em 21 indicações. O Festival de Veneza, por exemplo, laureou a obra sete vezes, incluindo o Prêmio do Júri e o de Melhor Filme Internacional.
Em preto e branco e com quase 2h30 de duração – que você não sente passar –, Zona de Exclusão levanta uma questão fundamental: há mesmo vidas humanas mais importantes que outras? Agnieszka Holland, que é também coautora do roteiro, nos dá a resposta. Por último, apenas para pontuar, a direção, a fotografia e as atuações são de extrema competência. Veja no cinema!
Confira o trailer
Zona de Exclusão | Estreia 18.04.24 | Dir. Agnieszka Holland | Polônia/EUA/ França/República Tcheca/Bélgica/Alemanha/Turquia | Drama | 147 min.
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